A sala de aula abre as portas para o videogame

O uso de jogos eletrônicos na educação pode ser uma estratégia de ensino para as novas gerações

Rafaela Arraes

O videogame, lazer comum entre crianças e adultos, ainda é visto por muitos como vilão da escola. Mas a verdade é que ele pode ser um bom aliado na aprendizagem. Há diversas pesquisas que comprovam o poder que estes jogos têm de superar o limite da diversão e mudar a maneira das pessoas se relacionarem com o conhecimento.

Na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), o estudante do curso de Licenciatura em Geografia Phelipe Gonçalves pesquisa a inclusão de videogames como recurso didático. “É importante porque aproxima o aluno a algo que ele gosta, para que ele possa ver que aquilo que ele simplesmente está ‘jogando’ tem muitos significados”, explica o graduando.

Utilizar jogos em geral nas salas de aula pode ser uma iniciativa para aluno e professor interagirem melhor. “A aula fica mais dinâmica, e isso favorece a aprendizagem, por trabalhar conteúdos específicos, reforçar o trabalho em equipe e estimular a criatividade”, aponta a psicóloga Fátima Caseiro. Hoje há diversos jogos educativos no mercado, que tem por principal objetivo ensinar brincando e ativar o interesse em descobrir coisas novas.

Os jogos eletrônicos, no caso, incentivam o prazer em vencer desafios, “passar de fase” e enfrentar o problema final. Como entretenimento, os obstáculos não parecem tão difíceis de serem alcançados. A história é dividida em partes, e a dificuldade aumenta de forma progressiva. Assim, a criança tem a capacidade de passar por cada etapa com esforço adequado à sua destreza, o que diminui a vontade de desistir.

Além disso, o próprio raciocínio lógico é impulsionado. O jogador precisa ter uma estratégia clara e pensar muito no momento em que realizar uma ação, pois assim como na vida real, consequências ruins podem aparecer. Isso é o que se chama de frustração prazerosa: a pessoa que joga aprende com seus erros e assim evita que eles aconteçam novamente.

A agilidade também encontra melhorias com a prática. A Universidade de Rochester (EUA) realizou um estudo sobre respostas rápidas de dezenas de jovens. Foi observado que aqueles que jogavam games de ação eram, em média, 25% mais rápidos para achar uma solução e responder às perguntas de forma correta.

Apesar de parecer uma prática sedentária, atualmente há jogos eletrônicos que simulam danças, corridas e esportes, com a possibilidade de desenvolver a capacidade física. Mas as atividades precisam ser acompanhadas de um responsável, para que acidentes não ocorram.

Outra área em que o videogame pode ser útil é a linguística. “Essa é uma prática social caracterizada pelo uso intensivo da língua. A criança precisa aprender a língua para jogar, jogar para aprender o idioma e fazer as duas coisas ao mesmo tempo”, explica Fátima Caseiro.

Os estímulos visuais, auditivos e motores dos games também aperfeiçoam a coordenação motora. Só quem já tentou jogar uma partida entende que não é tão simples prestar atenção a todos estes detalhes ao mesmo tempo. Dessa forma, habilidades que necessitam de atenção são melhoradas com a técnica.

Mesmo com todos esses benefícios, o uso exagerado dos videogames pode causar efeitos ruins. “É importante delimitar o tempo dedicado aos jogos para evitar dependência, e a parceria entre escola e família é fundamental para regular as horas de jogo e outras atividades”, assegura a psicóloga.