Rural sem Fronteiras

O Ciência sem Fronteiras é oportunidade para ampliar conhecimento e cultura

Gustavo Carvalho

Válber Laux em TU,Dortmund ()/Arquivo pessoal

Válber Laux, em Technische Universität Dortmund /Arquivo pessoal

Em dezembro de 2011, o Ministério da Educação (MEC) divulgou o  Ciência sem Fronteiras (CsF), programa que oferece bolsas de estudos em universidades e centros de pesquisa do mundo com o objetivo de promover a expansão e internacionalização da ciência e da tecnologia brasileira por meio do intercâmbio e da mobilidade internacional. A Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) aderiu à proposta do MEC e vem colhendo frutos de sua implantação entre os estudantes de graduação da Rural.

Os destinos são os mais variados e, desde o início, cerca de 400 alunos da Universidade conseguiram a bolsa para estudar no exterior. No primeiro ano, apenas oito graduandos ingressaram no programa, um vago esboço do que viria a ser no futuro. A partir de 2012, houve uma guinada na repercussão e integração do projeto na instituição, pois foram 97 alunos beneficiados. No ano seguinte, 144. Em novembro de 2014, 170 ruralinos estavam fora do país.

Um novo mundo de oportunidades, experiência e aprendizagem se abre ao conviver e lidar com outras culturas. O estudante tende a viver diferente e associar o que se conquista lá fora com o que tem aqui, alargando seu pensamento e visão, tanto pessoal quanto profissionalmente.

A professora de Licenciatura em Letras, do Departamento de Letras e Comunicação, da UFRRJ, e vice-diretora do Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS), Maria do Rosário Roxo, é otimista ao analisar a oportunidade dada aos alunos de graduação e as mudanças que o ele passa com essa experiência: “É um avanço que não se vê por inteiro no presente, mas sim a longo prazo. Eu acredito numa mudança que vem de dentro para fora, de um espaço ou de um grupo pequeno para um maior. Acho que, a curto prazo, é mais perceptível quando o aluno volta. Há algo de diferente nele, e as pessoas vislumbram isso. A maioria passa a pensa em fazer mestrado ou viver no exterior. Hoje, até a maneira de lidar com as coisas da vida, aqui, já mudou. Quero dizer, ele se situa no mundo, tem uma vivacidade diferente.”

A expectativa quanto aos resultados do Ciência sem Fronteira é grande. Tanto os contemplados, quanto os professores e os gestores procuram formar um canal em que a mensagem é voltada para a melhoria da sociedade e de si mesmos.

O estudante Valber Laux, do 7º período de Ciências da Computação está em Dortmund, cidade ao norte da Alemanha até março de 2015. Segundo ele, é uma experiência completamente diferente, pois viver em outro país muda a visão de turista, que fica algumas semanas, conhece os pontos turísticos do lugar e vai embora. Para escolher a universidade de destino e montar o programa de estudos, ele argumenta que os critérios devem ir além de pensar em viver em uma cidade grande ou de estudar em uma universidade bem colocada em rankings educacionais. “Sem dúvidas uma instituição bem reconhecida e uma cidade que tem bastante a oferecer são importantes, mas ter apoio da instituição, assim como se sentir bem, são fundamentais. Enquanto fazia minha escolha, conversei com pessoas de várias partes da Alemanha e apenas depois de me informar sobre os programas oferecidos para alunos internacionais, estrutura da universidade, organização do curso e oferta de disciplinas, me decidi”.

Jessíca Mazza, em Florença/Arquivo Pessoal

Jessíca Mazza, em Florença/Arquivo Pessoal

O intercâmbio foi um desafio do início ao fim para Jéssica Mazza, estudante do 8º período de Jornalismo da Universidade Rural, que participou do CsF no ano de 2012. Primeiro, ela não poderia entrar no programa devido à área do seu curso. Segundo, não tinha experiência sobre como lidar com as escolhas e o idioma falado em Florença, na Itália, onde escolheu estudar. Depois de superado os obstáculos, a estudante conta que estudou bastante, fez amizade com pessoas de toda parte do mundo e aprendeu um pouco com cada um deles, e que a experiência foi importante para a futura jornalista. “Nessa profissão, precisamos saber de tudo um pouco e quanto mais conhecimento, melhor. Sem contar que quanto mais você estuda, lê, conhece e aprende mais você aprimora seu olhar crítico”, reflete Mazza.

Ambos os alunos são irredutíveis ao dizerem que tudo depende apenas de você, do seu esforço, seu foco, sua frequência e sua prática em exercitar o que se aprende.

Reforçando o que foi dito pela professora Maria do Rosário, Valber Laux conta como a viagem vem expandindo seus horizontes: “Conviver com outras culturas abre a mente, faz enxergar o mundo de outra forma, a respeitar as diferenças. Só isso já te faz um profissional melhor, criativo, mais preparado para as adversidades, mas também mais humano. Ao mesmo tempo, estar em uma universidade de qualidade, com pesquisas de ponta e bons professores é algo que sem dúvidas contribui para a sua carreira”.

Questões técnicas do programa – Segundo o Coordenador de Mobilidade Acadêmica da UFRRJ, Márcio de Morais Lopes, até hoje o único problema relatado é quando o estudante retorna e precisa fazer equivalência entre as disciplinas cursadas no exterior e as do curso de origem. “O certo da mobilidade é o aluno ir com a autorização das equivalências referentes às disciplinas que seriam feitas na Universidade, para poderem ser reaproveitadas. Muitos estudantes foram sem fazer isso previamente e só as escolheram quando estavam na instituição de lá, o que dificultou para que conseguissem essa equiparação. Por essa razão, eles tiveram que fazer a matéria aqui depois, porque muitos foram para destinos que não tinham nada a ver com o conteúdo programático do curso de origem”, alerta Lopes.

O aluno que estiver interessado em participar do CsF deve ler o edital, fornecido nas chamadas financiadas com recursos da CAPES, do CNPq e de empresas parceiras. Atendendo aos requisitos existentes, pode se inscrever. Caso obtenha êxito, a Pró-reitoria de Graduação (Prograd) o homologa e este estudante passa para a próxima etapa do processo seletivo. Nela, ele será analisado pela coordenação do programa, porém, em âmbito nacional.

Para saber mais do projeto na Rural, clique em: Programas de Mobilidade/UFRRJ

A sala de aula abre as portas para o videogame

O uso de jogos eletrônicos na educação pode ser uma estratégia de ensino para as novas gerações

Rafaela Arraes

O videogame, lazer comum entre crianças e adultos, ainda é visto por muitos como vilão da escola. Mas a verdade é que ele pode ser um bom aliado na aprendizagem. Há diversas pesquisas que comprovam o poder que estes jogos têm de superar o limite da diversão e mudar a maneira das pessoas se relacionarem com o conhecimento.

Na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), o estudante do curso de Licenciatura em Geografia Phelipe Gonçalves pesquisa a inclusão de videogames como recurso didático. “É importante porque aproxima o aluno a algo que ele gosta, para que ele possa ver que aquilo que ele simplesmente está ‘jogando’ tem muitos significados”, explica o graduando.

Utilizar jogos em geral nas salas de aula pode ser uma iniciativa para aluno e professor interagirem melhor. “A aula fica mais dinâmica, e isso favorece a aprendizagem, por trabalhar conteúdos específicos, reforçar o trabalho em equipe e estimular a criatividade”, aponta a psicóloga Fátima Caseiro. Hoje há diversos jogos educativos no mercado, que tem por principal objetivo ensinar brincando e ativar o interesse em descobrir coisas novas.

Os jogos eletrônicos, no caso, incentivam o prazer em vencer desafios, “passar de fase” e enfrentar o problema final. Como entretenimento, os obstáculos não parecem tão difíceis de serem alcançados. A história é dividida em partes, e a dificuldade aumenta de forma progressiva. Assim, a criança tem a capacidade de passar por cada etapa com esforço adequado à sua destreza, o que diminui a vontade de desistir.

Além disso, o próprio raciocínio lógico é impulsionado. O jogador precisa ter uma estratégia clara e pensar muito no momento em que realizar uma ação, pois assim como na vida real, consequências ruins podem aparecer. Isso é o que se chama de frustração prazerosa: a pessoa que joga aprende com seus erros e assim evita que eles aconteçam novamente.

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“Chá de Galinha Pintadinha” serve para acalmar e educar crianças?

Psicopedagoga analisa pontos negativos e positivos no uso de audiovisuais na infância

Adrian Busch

Há anos, discute-se sobre a influência, os benefícios e os malefícios da televisão para as crianças. Conforme os aumentos do público, os programas infantis foram se desenvolvendo e tornando-se cada vez mais educativos, introduzindo o alfabeto, os números, as cores e instigando um melhor relacionamento social, mas na mesma medida, o acesso a essa ferramenta para entreter os pequenos e mantê-los comportados pode tornar-se um fator negativo para integração e o psicológico dos pequenos.

Cristiane Barbalho, 33, mãe da Valentina de 2 anos, concorda com o valor educacional da programação infantil. “Algumas músicas da Galinha Pintadinha fazem referência ao alfabeto, aos números, e a ajudaram muito a contar até 10 e a identificar as cores, mas ela recebe outros estímulos pra isso, acredito que a música sozinha não a ensinaria.” A mamãe diz que percebe que a filha também entende as mensagens passadas pelas historinhas do cotidiano. “As vezes faço referencia ao desenho e percebo que ela para e reflete. Por exemplo, quando ela não quer tomar banho, digo a ela que a
Peppa toma banho, aí ela aceita.”

Esse caso, ilustra o aspecto positivo dos audiovisuais na fase de formação. A Psicopedaga Ana Paula Miranda afirma que não há problemas em fazer esse tipo de comparação “A criança gosta daquele mundo do desenho, é importante ressaltar os aspectos positivos retratados para que se espelhem.” Ela aponta também que pode ser uma ferramenta para implementar uma alimentação saudável, dentre outras coisas. Entretanto, é imprescindível que os pais saibam que tipo de programação seus filhos estão tendo acesso, pois da mesma forma que são influenciados a fazerem coisas boas, o contrário também pode ocorrer.

Em fevereiro deste ano, a Galinha Pintadinha bateu a marca de 1 bilhão de visualizações no Youtube, onde os acessos dois vídeos mais visitados estavam na média de 1milhão e meio. Não é difícil saber o porquê de tanto sucesso. É notório o descontrole no uso indiscriminado desses artifícios para distrair os pequenos, ainda mais em uma época que os programas não precisam da TV para serem assistidos.Ana Paula Miranda contou que está atendendo mais de um caso de crianças a cima dos 3 anos que não conseguem se relacionar, falar ou brincar, pois não foram estimulados a outra atividade se não a de telespectador. Apesar do cunho educativo, alguns responsáveis utilizam o recurso como forma de “calmante” para os filhos, e acabam deixando-os reclusos da sociedade. O próprio site comemorou o número com a seguinte frase “Parabéns, Galinha Pintadinha, por deixar as crianças quietinhas 1 bilhão de vezes!”. Essa colocação reavivou o debate sobre a real função dos programas infantis.

Os celulares e tablets transformaram essa diversão em algo móvel e acessível. É comum vermos na rua crianças com o olhar fixado em seus aparelhos. Há no mercado tablets temáticos com a programação da Galinha Pintadinha, o que estimula a visualização continua. Os especialistas apontam que mais de duas horas em frente à tela podem causar diminuição na capacidade de atenção e seu uso ilimitado restringe a pessoa de ações importantes principalmente na fase de formação.

A psicopedagoga não descarta o meio, e acredita que pode ser usado como estimulo positivo, desde que usado com monitoramento de adultos, tempo estipulado e aliado à outras atividades, principalmente que a coloquem em convivência com personagens da vida real.

“A vovó não viajou nem virou estrelinha”

Como abordar o tema morte na educação das crianças

Elza  Rodrigues

Negação, raiva, depressão e aceitação são alguns dos sentimentos experimentados pelo adulto quando afetados pela morte de alguém próximo. E as crianças? como processam esta situação? O equivalente de tais sentimentos para os pequenos, além de depressão, são a tristeza, medo, entre outros sentimentos, que geram  queda no rendimento escolar, sentimento de abandono e  culpa, agressividade, insegurança e desejo de se isolar.

Apesar do tema não ser bem esclarecido, mesmo na família que usa eufemismos como “a vovó virou uma estrelinha”, ele é amplamente divulgado pela mídia de forma crua e invasiva. Por isso a necessidade de uma educação para a morte, pois esconder a morte de alguém próximo ou fantasiar explicações para amenizar a dor da criança, mais prejudica do que ajuda no processo de luto.

Os pequenos passam por várias fases num curto período de tempo, por isso é preciso compreender bem cada uma delas. Justamente quando a criança aumenta as relações e vínculos sociais, a partir de 7 anos, é quando ela esta na escola e passa a sentir mais as perdas fora do círculo familiar. Começa a distinguir os processos da morte como reversível e irreversível, e passa a compreender melhor o tema e inclusive fala sobre o assunto. Mas é a partir dos 12 anos que todo o processo de morte pode ser entendido pela criança.

A verdade é sempre a melhor opção

Eliane Fazolo, professora de Pedagogia/UFRRJ

Eliane Fazolo, professora de Pedagogia/UFRRJ. Arquivo pessoal

A pedagoga Eliane Fazolo Freire, professora do Curso Pedagogia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, em Seropédica, lembra que não importa a idade da criança a verdade deve prevalecer: “O que costumamos indicar para professores e adultos que lidam com crianças, é que a verdade sempre seja a opção. Evitando as tradicionais desculpas como ‘vovô foi viajar para muito longe’ ou ‘foi para o céu’, ou ainda ‘virou uma estrelinha e vai ficar te olhando lá de cima’.”

A professora comenta que o tema morte é delicado para os adultos, sendo ainda mais para crianças na educação infantil. Portanto na medida do possível, é preciso que a criança entenda que não verá mais essa pessoa, que por doença, ou acidente, não voltará, mas que não virou estrelinha. “Cada família deve procurar a melhor forma de dizer isso para sua criança, respeitando as suas crenças, culturas e hábitos”, aconselha a pedagoga. Ela destaca que a escola deve ser informada sobre internações ou doenças, para que se possa ir construindo com a criança esta questão irreversível.

Livros, fotos, animais e dramatizações

“Animais como peixes, porquinhos da índia e galinhas, podem ser um aliado nessa questão. Se a escola tem a possibilidade de ter alguns deles, é excelente para tirar essa conotação dramática. Eles morrem, mas outros chegam e por mais que as crianças sintam saudades e se lembrem dos que se foram, a vida cotidiana continua” diz Fazolo Freire, defendendo este como ótimo momento para conversar sobre isso, tem choro e tem entendimento.

Outra estratégia é deixar que as crianças expressem suas perdas através de conversas, desenhos, dramatizações e esculturas. Todas as formas artísticas de expressão devem ser utilizadas quando for necessário, e quando a criança se mostrar mais quieta ou triste. Um porta-retrato no quarto da criança pode ajudar a fazer a transição do “desaparecimento”, além de manter perto o ente querido. Falar da pessoa também é aconselhável, lembrando os pratos preferidos, as frases, os passeios.

Fazolo conclui que literatura infantil que aborda o tema podem, e devem, ser lidos e trabalhados com as crianças em situações de luto ou não. A família e os educadores devem ficar atentos ao comportamento da criança, se o fato afetar o rendimento escolar, relacionamento com os amigos e a criança chorar à noite, será imprescindível os responsáveis procurar ajuda de um profissional para acompanhamento psicológico .

Alguns títulos infantis que abordam o tema:

* Menina Nina (Ziraldo)

* A pequena vendedora de fósforos – Hans Christian Andersen

* Os porquês do coração (Conceil C. Silva)

* Bisa Bia bisa Bel (Ana Maria Machado)

* Eu vi mamãe nascer (Luiz Fernando Emediato)

* Para sempre no meu coração (Anette Aubrey)

* Cadê meu avô (Lídia Carvalho)

* Por Que Elvis Não Latiu? (Frizero, Robertson)

* O Segredo é não ter medo (Tatiana Belinky)

* O Ovo e o Vovô (André Neves)

Alfabetização científica no Brasil: Uma questão a ser resolvida

Thaís Melo

O espaço e a importância dados à divulgação e alfabetização científica no Brasil vêm crescendo nos últimos anos. Ainda assim, a maior parte da população brasileira não domina informações científicas necessárias para lidar com situações cotidianas. A abordagem do tema nas escolas e no jornalismo, poucos jornalistas especializados em ciência e a forma de pensar de grande parte da população são fatores que contribuem para o analfabetismo científico.

A escola é o primeiro lugar em que o cidadão tem acesso à informação científca de forma sistemática. Entrevistei dois estudantes, um do ensino privado e outro de escola pública para saber o que pensam do ensino de ciências. “O ensino na minha escola é bem dinâmico e divertido. Eu gosto bastante das aulas”, relata Maria Luíza Moraes Campos, 14 anos, moradora do Rio de Janeiro, estudante do 8°ano do Colégio Nossa Senhora do Rosário. Em contrapartida, Anderson Braule Rosa, 16 anos, também do Rio de Janeiro, estudante do 1° ano do ensino médio do C.E. Professora Jeannette de Souza Coelho Mannarino, declarou não gostar do assunto e avaliou: “As ciências no meu colégio são ensinadas de maneira bem monótona e sem graça. É entediante.”

Ao serem perguntados de que forma eles usavam a ciência no dia a dia, ambos os estudantes afirmaram que não a usam para nada. Isso mostra que independente do gosto de cada um, não percebem as ciências no cotidiano. Essa fala comum dos dois alunos só reforça os dados obtidos pelo último levantamento Índice de Letramento Científico (ILC) do brasileiro.

Em julho de 2014, foi divulgado o Índice de Letramento Científico (ILC), fruto de uma parceria entre o Instituto Abramundo, o Instituto Paulo Montenegro e a ONG Ação Educativa. Para a pesquisa, foram aplicados questionários a 2002 pessoas entre 15 e 40 anos, com ao menos quatro anos do ensino fundamental completos. De acordo com os resultados a ciência tem influência sob a forma de ver o mundo e de lidar com situações complexas de apenas 5% dos avaliados, enquanto mais da metade sequer consegue utilizar o que aprendeu na escola em situações cotidianas.

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Ensinar e aprender matemática: desafios na escola

Gian Cornachini

Em março de 2013, a ONG “Todos pela educação” divulgou um estudo que compara a evolução de alunos na escola. A pesquisa aponta a matemática como a disciplina que tem o pior rendimento na escola pública.

O radiodocumentário “Desafios da Matemática” tem o objetivo de entender o porquê desse resultado e o terror que há sobre a matemática, além de apresentar o papel do professor na formação dos estudantes. Para ouvir, clique no player abaixo.

Locução, produção e edição: Gian Cornachini

Entrevistados

Cristiane de Freitas Meireles — professora de história, geografia e matemática na Escola Municipal Nelson Fernandes Nunes, em Seropédica (RJ);
• Elen da Silva Rodrigues — mãe da estudante Julia, do 4º ano da E. M. Nelson Fernandes Nunes;
Gisela Pinto — professora coordenadora do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) de Matemáica, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ);
Leonardo Cruz — graduado em Design Digital;
Pedro Carlos Pereira — professor coordenador do Programa de Educação Tutorial (PET) de Matemática, da UFRRJ;
Maurício de Carvalho — estudante de Matemática (bacharelado) na UFRRJ;
Gabriel da Silva Freitas — estudante de Matemática (licenciatura) na UFRRJ;
Bruno Freitas de Queiroz — estudante de Matemática (licenciatura) na UFRRJ

Este trabalho foi produzido para a disciplina de Radiojornalismo II, do curso de Jornalismo da UFRRJ (maio/2013)

Viver no alojamento universitário é experiência política e cultural

A moradia coletiva estudantil também é um espaço de aprendizagem

Andreza dos Santos

Alojamento na Rural (foto: Gian Cornachini)

A Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro já foi a instituição nacional com maior assistência à mobilidade estudantil desde sua instalação em Seropédica (então, distrito de Itaguaí), em 1947, ainda como Escola Nacional de Agronomia e Medicina Veterinária. Atualmente, o campus do município de Seropédica conta com 8.386 alunos de graduação presenciais e oferece alojamento para quase 16% de seus estudantes. São 1335 vagas no total, sendo 647 destinadas às mulheres e 688 aos homens, segundo informações do Setor de Residência Estudantil (SERE). Com o decorrer dos anos, a realidade dos alunos alojados foi se adaptando às mudanças vividas pela universidade.

A professora Lucília Augusta Lino de Paula, do Instituto de Educação da UFRRJ, em sua tese de doutorado intitulada “O Movimento Estudantil na UFRuralRJ: Memórias e Exemplaridade”, registra que, até segunda metade da década de 60, a universidade garantia alojamento para todos os alunos  matriculados, sendo obrigatório o regime de internato e o horário integral. Com a ampliação do número de vagas e a falta de recursos para a construção de novos prédios, foi adotado o regime misto internato/externato e muitos alunos passam a morar nas chamadas repúblicas do Km 49. A classificação no vestibular era o critério de seleção para os alojamentos. Hoje, para conseguir vaga na moradia estudantil, são avaliadas as condições econômicas da família e o local de residência.

Cartazes da mobilização pelo alojamento F6. (foto: DCE UFRRJ)

Nas primeiras décadas,  “por melhores condições que o estudante tivesse, ele vinha morar no alojamento, mesmo porque o afastamento dos centros urbanos e a falta de desenvolvimento de Seropédica o encaminhavam a isso”, conta o aluno do 3º período de História, Marlon Bruno de Morais, bolsista do Centro de Memória da UFRRJ, morador do alojamento. “Lembremos que na época da fundação da universidade, os estudantes que aqui ingressavam eram provenientes da elite escravocrata brasileira do século XIX”,  salienta o acadêmico.

Outro aspecto que a pesquisadora do movimento estudantil ruralino destaca é a relação única que o aluno da Rural desenvolve com a universidade. Para Lucília de Paula,  a universidade também um lugar de vivência e de engajamento político. “Chegando à universidade, mais do que os cursos, é o alojamento o grande núcleo de aglutinação das lutas, assim como o bandejão também. Além de uma forma de assistência estudantil para alunos carentes, o alojamento é o núcleo da vida cultural e política da universidade. Os alunos que não permanecem na Universidade, morando no alojamento ou em Repúblicas, ou não frequentam o bandejão, não participam da mesma vida universitária que aqueles que frequentam esses espaços, que são de efervescência política e cultural”.

Um exemplo recente dessa efervescência foi a tomada do hotel universitário por alunos liderados pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE).  A mobilização começou em 12 de abril deste ano e no dia 27 do mesmo mês, o Conselho Universitário aprovou a ocupação do antigo hotel, que se consolidou na sexta moradia estudantil feminina da universidade. Agora são seis prédios para mulheres e seis para homens.

Placa provisória do 6º alojamento feminino (foto: DCE UFRRJ)

O projeto de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) trouxe para a Rural 17 novos cursos, o que resultou não apenas no ingresso de um número maior de estudantes,  mas também em necessidade de mais vagas nos alojamentos.  A estudante do 5º período de Letras, e também moradora do campus de Seropédica, Jéssica França, destaca a diversidade cultural ao qual os ruralinos estão inseridos, que favorece uma experiência de convívio única. “Um pequeno espaço e podemos estar em várias regiões do país. Cada um com seus gostos, modo, costumes e dialetos. Uma riqueza que, se misturada numa certa medida, enriquece mais do que os tantos livros que lemos por aqui. É praticamente um estudo empírico e antropológico”.

Pesquisa em educação usa cinema para entender a formação de estudantes

Professor Aristóteles Berino estuda a criação de uma inteligência coletiva pela juventude

Texto e foto: Mariana Dias

Sob o sol do meio dia, jovens estudantes caminham em direção à escola ou voltam para casa. Eles se vestem com uniforme escolar, mas diferenciam-se pelos acessórios, cabelos, tênis e mochilas que usam. Com a fala cheia de gírias e códigos internos, são iguais buscando a diferença.

O cotidiano desses jovens é o objeto de pesquisa do professor Aristóteles Berino, do curso de Pedagogia, do Instituto Multidisciplinar (IM), da UFRRJ. Ele estuda o modo de vestir, o jeito de falar, os escritos nas paredes, o que assistem e todas as influências que compõe essa cultura. A pesquisa parte da ideia do senso comum de que os jovens são teleguiados, alienados e facilmente influenciados.

Berino discute projetos com mestrandas

O pesquisador trabalhou durante 13 anos nas séries finais do Ensino Fundamental (7°, 8° e 9° ano) da rede pública estadual do Rio de Janeiro. Durante esse tempo, o professor de História percebeu uma desconexão entre o conteúdo proposto pelo currículo e a realidade das escolas. A observação levou à pesquisa sobre o papel do Estado na educação e formação desses jovens, que acabou se tornando tema da tese de doutorado. A conclusão de que escola não é totalmente responsável pela formação dos estudantes, que existem outros meio que influenciam os alunos, e outras discussões foram publicadas no livro “A Economia Política da Diferença”, editado em 2007.

“A juventude atualmente é vista como alienada e teleguiada, estamos conseguindo, a partir dessas observações, concluir que não é bem assim que acontece” comenta o professor Berino, que coordena o grupo de pesquisas “Estudos Culturais em Educação e Arte” , desde 2006. A pesquisa de campo atualmente é realizada no Colégio Técnico da UFRRJ (CTUR), em Seropédica, na Baixada Fluminense. Para produzir diálogos que investiguem a formação de identidade dos jovens, o cinema foi introduzido como meio de partida.

 A pesquisa  – Os encontros com os estudantes do CTUR começam com a exibição de um filme, seguida de um debate. Os pesquisadores observaram que os jovens normalmente são capazes de fazer críticas e ponderações interessantes a respeito do que acabaram de ver. Comentam as imagens, a trilha sonora, a história e a interpretação geral. Segundo o professor Berino, eles costumam desenvolver uma inteligência coletiva, ou seja, consideram o que os outros experimentaram e desenvolvem ideias próprias a partir daí.

Tais conclusões mostram a importância da pesquisa na educação. “Foi possível, nessa pesquisa, encontrar jovens que pensam e que desconstituem todo um conceito pré-estabelecida do senso comum“, analisa o professor Aristóteles Berino. Importante destacar que a pesquisa vem sendo desenvolvida com um público específico, pois a escola faz um processo seletivo para o ingresso de alunos.

Seropédica, onde está localizada a escola, não possui salas de cinema. Os jovens quando questionados pelos pesquisadores sobre o consumo de filmes, disseram que costumam ir aos cinemas do bairro de Campo Grande (a cerca de 25 km), vêem pela TV, DVD e na internet. Pode-se concluir aí, que pouco importa o meio que se tem acesso, fato é que os jovens “dão um jeito” de entrar em contato com os filmes. A condição do cinema acaba se transformando e se modificando

Cinema e Educação – Projetos de mestrado sobre de cinema e educação têm sido desenvolvidos no IM. Adriene do Nascimento Adão, orientada por Berino, desenvolve pesquisa para novas propostas de inserção do cinema no currículo das escolas estaduais. Rafaela Rodrigues da Conceição, também orientada por Berino, e integrante do grupo de pesquisa, estuda o que o jovem aprende fora da escola. As idas ao cinema são importantes no contexto, pois, segundo a mestranda, o jovem aprende muito mais quando vê um filme sem o compromisso pedagógico. O título do projeto de Conceição é “Pedagogia da imagem: o cinema conectando identidades, culturas e gêneros juvenis”.

O grupo de pesquisa “Estudos Culturais em Educação e Arte” envolve pesquisadores da UFRRJ e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). A atual pesquisa do grupo tem como título: “Juventudes: Circulação das Imagens e Fruição de Identidades Entreatos Curriculares.” Tem financiamento da FAPERJ e conta também com bolsistas de iniciação científica (PIBIC/UFRRJ/CNPq).