O uso de agrotóxicos domina a produção de alimentos

A gigantesca demanda mundial por produtos agrários leva produtores a se utilizarem de artifícios que podem apresentar riscos à saúde e ao meio ambiente, como o abuso de sementes transgênicas e agrotóxicos.

Sandro Schutt Jr

Uma maneira popular para atender à demanda de bens agrários é acelerar o ritmo de produção com o uso de fertilizantes e herbicidas que fornecem ao solo minerais essenciais para o crescimento das plantas e eliminam ervas daninhas, doenças e pragas. O Brasil é o principal produtor de soja no mundo, responsável por 30% da produção mundial. Também é o maior consumidor de herbicidas e fertilizantes, somando 20% da demanda mundial de um herbicida em particular – o glifosato Roundup, da empresa norte-americana Monsanto.

O glifosato, conhecido no país como Mata-Mato, é um herbicida sistêmico de ação não seletiva (mata qualquer planta, prejudicial ou não) que atua na erradicação de agentes danosos, responsáveis por competir pelos nutrientes do solo e do ar (fósforo, potássio, nitrogênio) com plantas comercializáveis. Seu uso faz com que as plantas (devido à ausência de ervas daninhas) absorvam mais nutrientes do solo, se desenvolvam mais rápido e cheguem mais cedo aos mais variados mercados de todo o planeta.

Devido à baixa toxicidade do glifosato, não existem normas rigorosas na legislação brasileira que controlem de maneira eficaz o uso dessa substância. Mas o uso indiscriminado do glifosato faz com que as plantas se desenvolvam com suas funcionalidades orgânicas alteradas, assim como desenvolvam certo grau de toxicidade (0.90 mg/kg de grãos no caso da soja).

Em julho de 2014,  cientistas de todo o mundo reuniram-se na China para o Food Safety Sustainable Agriculture Forum 2014 (Fórum de Segurança de Alimentos e Agricultura Sustentável 2014), em Beijing, para discutir com autoridades e acadêmicos chineses os perigos das sementes transgênicas e o uso inadequado de agrotóxicos. As concessões para uso massivo da aplicação de soja transgênica carregada de glifosato no mercado chinês foi posta em debate ao se verificar os índices de saúde no país nas últimas décadas.

Necessidade e responsabilidade

Os danos ambientais e humanos causados por conta de produtos do setor agrário não se devem somente aos agrotóxicos. O fator “homem” sempre deve ser levado em conta nessa área. Para que um produto químico possa ser comercializado, precisa passar por uma rigorosa bateria de exames e experimentos impostos pelo Ministério da Saúde e pela Agência Nacional de Segurança Sanitária (Anvisa). Esses testes visam determinar o nível de impacto negativo e positivo que o produto oferece. Caso se apresente eficiente em termos de produção, mas, seja muito danoso ao meio ambiente, não receberá o selo de segurança, assim como não contará nos registros governamentais como “produto legal”.

Quando um agrotóxico não atende às necessidades do produtor o mesmo pode recorrer a produtos ilegais, trazidos por meio de contrabando de países como Argentina e Paraguai, ou até mesmo usando dosagens maiores de produtos legalizados para conseguir um melhor efeito em sua safra.

Segundo o professor Aroldo Ferreira Lopes, do Departamento de Fitotecnia do Instituto de Agronomia da UFRRJ e ex-funcionário da Monsanto, a culpa é injustamente atribuída aos agrotóxicos por todos os danos causados. Reconhece que os compostos químicos apresentam certo nível de risco para o meio ambiente e para a saúde, mas defende que o uso inadequado e a falta de informação são os maiores vilões.  “Todo ano o Ministério da Saúde faz um levantamento chamado Programa de Análise em Resíduos em Alimentos. Se olharmos esse relatório da Anvisa, vemos que a maioria dos alimentos possui resíduos de agrotóxicos. Em muitos casos esses vestígios químicos encontrados em alimentos são de agrotóxicos não aprovados para cultura, o que é ainda mais grave, pois gera um problema ainda maior para a alimentação. Isso se dá porque o produtor pode não ter alternativas para o uso daquele produto ou por falta de informação, de saber que aquele produto que ele vem utilizando é ilegal. Hoje em dia temos tomate, pimentão, cebola, pepino, alface, soja, milho, etc., com problemas de resíduo de agrotóxicos que em muitos casos não são registrados para essas culturas”, informa o professor.

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