Pesquisa em educação usa cinema para entender a formação de estudantes

Professor Aristóteles Berino estuda a criação de uma inteligência coletiva pela juventude

Texto e foto: Mariana Dias

Sob o sol do meio dia, jovens estudantes caminham em direção à escola ou voltam para casa. Eles se vestem com uniforme escolar, mas diferenciam-se pelos acessórios, cabelos, tênis e mochilas que usam. Com a fala cheia de gírias e códigos internos, são iguais buscando a diferença.

O cotidiano desses jovens é o objeto de pesquisa do professor Aristóteles Berino, do curso de Pedagogia, do Instituto Multidisciplinar (IM), da UFRRJ. Ele estuda o modo de vestir, o jeito de falar, os escritos nas paredes, o que assistem e todas as influências que compõe essa cultura. A pesquisa parte da ideia do senso comum de que os jovens são teleguiados, alienados e facilmente influenciados.

Berino discute projetos com mestrandas

O pesquisador trabalhou durante 13 anos nas séries finais do Ensino Fundamental (7°, 8° e 9° ano) da rede pública estadual do Rio de Janeiro. Durante esse tempo, o professor de História percebeu uma desconexão entre o conteúdo proposto pelo currículo e a realidade das escolas. A observação levou à pesquisa sobre o papel do Estado na educação e formação desses jovens, que acabou se tornando tema da tese de doutorado. A conclusão de que escola não é totalmente responsável pela formação dos estudantes, que existem outros meio que influenciam os alunos, e outras discussões foram publicadas no livro “A Economia Política da Diferença”, editado em 2007.

“A juventude atualmente é vista como alienada e teleguiada, estamos conseguindo, a partir dessas observações, concluir que não é bem assim que acontece” comenta o professor Berino, que coordena o grupo de pesquisas “Estudos Culturais em Educação e Arte” , desde 2006. A pesquisa de campo atualmente é realizada no Colégio Técnico da UFRRJ (CTUR), em Seropédica, na Baixada Fluminense. Para produzir diálogos que investiguem a formação de identidade dos jovens, o cinema foi introduzido como meio de partida.

 A pesquisa  – Os encontros com os estudantes do CTUR começam com a exibição de um filme, seguida de um debate. Os pesquisadores observaram que os jovens normalmente são capazes de fazer críticas e ponderações interessantes a respeito do que acabaram de ver. Comentam as imagens, a trilha sonora, a história e a interpretação geral. Segundo o professor Berino, eles costumam desenvolver uma inteligência coletiva, ou seja, consideram o que os outros experimentaram e desenvolvem ideias próprias a partir daí.

Tais conclusões mostram a importância da pesquisa na educação. “Foi possível, nessa pesquisa, encontrar jovens que pensam e que desconstituem todo um conceito pré-estabelecida do senso comum“, analisa o professor Aristóteles Berino. Importante destacar que a pesquisa vem sendo desenvolvida com um público específico, pois a escola faz um processo seletivo para o ingresso de alunos.

Seropédica, onde está localizada a escola, não possui salas de cinema. Os jovens quando questionados pelos pesquisadores sobre o consumo de filmes, disseram que costumam ir aos cinemas do bairro de Campo Grande (a cerca de 25 km), vêem pela TV, DVD e na internet. Pode-se concluir aí, que pouco importa o meio que se tem acesso, fato é que os jovens “dão um jeito” de entrar em contato com os filmes. A condição do cinema acaba se transformando e se modificando

Cinema e Educação – Projetos de mestrado sobre de cinema e educação têm sido desenvolvidos no IM. Adriene do Nascimento Adão, orientada por Berino, desenvolve pesquisa para novas propostas de inserção do cinema no currículo das escolas estaduais. Rafaela Rodrigues da Conceição, também orientada por Berino, e integrante do grupo de pesquisa, estuda o que o jovem aprende fora da escola. As idas ao cinema são importantes no contexto, pois, segundo a mestranda, o jovem aprende muito mais quando vê um filme sem o compromisso pedagógico. O título do projeto de Conceição é “Pedagogia da imagem: o cinema conectando identidades, culturas e gêneros juvenis”.

O grupo de pesquisa “Estudos Culturais em Educação e Arte” envolve pesquisadores da UFRRJ e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). A atual pesquisa do grupo tem como título: “Juventudes: Circulação das Imagens e Fruição de Identidades Entreatos Curriculares.” Tem financiamento da FAPERJ e conta também com bolsistas de iniciação científica (PIBIC/UFRRJ/CNPq).