Novos museus do Rio serão para turistas

Projeto estuda criação do Museu do Amanhã e do Museu de Arte do Rio na região central do Rio de Janeiro

Analine Molinário

O Brasil é o nome em destaque do cenário esportivo mundial, pois os principais eventos de esporte, nos próximos anos, terão o país como sede. Já em 2013, os brasileiros serão os anfitriões da Copa das Confederações. Para a Copa das Confederações e a Copa do Mundo de 2014 estão sendo realizadas obras em vários estados, a fim de melhorar as instalações para jogos e atletas. A cidade mais famosa do país, o Rio de Janeiro, abrigará os maiores eventos: as Olimpíadas e Paraolimpíadas, em 2016. Para atender os requisitos impostos pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) e a fim de recepcionar turistas, atletas, jornalistas e comissões, a capital carioca tem investido na infraestrutura e em sistemas de segurança.

A principal obra realizada na região central da cidade é a intervenção na zona portuária, conhecida como Porto Maravilha. O projeto é fruto de uma união dos governos municipal, estadual e federal, além de parcerias privadas. Algumas pretensões do plano são remover o elevado da Perimetral, construir um túnel na Praça Mauá, que será a futura Avenida Binária do Porto, além das construções do Museu do Amanhã, no Pier Mauá, e do Museu de Arte do Rio (MAR) na Praça Mauá.

Tendo em vista este cenário de transformações, a professora Sabrina Parracho Sant’Anna, do Departamento de Ciências Sociais, do Instituto de Ciências Humanas e Sociais, da UFRRJ,  desenvolve a pesquisa: “Do Guggenheim ao Museu do Amanhã: o processo de musealização e o novo horizonte de expectativas nas intervenções urbanísticas da Zona Portuária do Rio de Janeiro”. O projeto analisa como o Porto Maravilha tem gerado opiniões diversas de agentes sociais, urbanistas e críticos da arte contemporânea. Além disso, pretende verificar como estas instituições estão sendo planejadas, no que se refere a público.

Sabrina Sant’Anna tem percebido que os museus estão sendo projetados principalmente para turistas. Além disso, acredita que há uma tentativa de reconfigurar o perfil de classes da região.  Isso porque, o número de moradores da zona portuária é muito pequeno. Segundo diagnósticos dos técnicos da Subsecretaria de Patrimônio Cultural, Intervenção Urbana, Arquitetura e Design da Secretaria Municipal de Cultura, o centro é a região da cidade com menos pessoas morando (22.000) e com menor densidade de crescimento. “Sem dúvida, a expectativa é de mudar o perfil socioeconômico da região e criar uma imagem de cidade global para as redes de turismo transnacional. Em suma, são museus para turistas”, aposta a professora.

Os eventos esportivos estimularam as intervenções com o propósito de transformar a cidade, assim como aconteceu em Barcelona, na Espanha, para as Olimpíadas de 1992, explica a pesquisadora. “Acho que o projeto de intervenção urbana na zona portuária tem pouco mais de uma década e que já vem de longe. No entanto, me parece que só se tornou possível, porque os megaeventos esportivos tornaram o investimento no Rio de Janeiro financeiramente viável. Por outro lado, não só por causa dos jogos, tem se conjurado no Rio de Janeiro um clima de euforia e uma nova identidade carioca que apresenta o atual momento da cidade como uma fase de superação, após um longo período de decadência. Os Jogos não são o único fator explicativo, mas certamente têm um papel importante”.

Início da pesquisa – O interesse da professora em estudar as intervenções na Zona Portuária vem de muito tempo. Ela conta a Agenotic que quando criança, sua família por parte da avó materna residia na Saúde, bairro da zona central da cidade. Além de moradia, servia como local de trabalho para a sua família de imigrantes portugueses. Entretanto, com a decadência da região, seus parentes deixaram a zona portuária em direção a outros bairros. O projeto do Museu Guggenheim era discutido na gestão César Maia (2001-2005), época em que a professora viu uma oportunidade de estudo. Mas, o Guggenheim acabou não acontecendo. Hoje, com a intervenção do Porto Maravilha, a questão da construção dos museus reapareceu e ela pôde então realizar a pesquisa.

A estudante Nathália de Paula Bernardo Vianna, do curso de Filosofia e bolsista de iniciação científica no projeto, destaca a importância do estudo. “Esse tema é bem interessante, pois nos permite acompanhar como a população reage às mudanças, tanto no âmbito físico da cidade quanto na questão cultural. E isso, para nós estudantes, é um privilégio, pois acompanhamos o impacto que todas essas modificações causará na sociedade carioca”.

O projeto tem financiamento do CNPq e da Faperj.