ONU estima que lixo produzido no mundo será 70% maior em 2030

Segundo o Pnuma, a consequência da gestão incorreta dos resíduos pode causar grandes danos à população

João Pedro Araújo Nunes

Lixao avanca sobre manguezais_ em Sao Goncalo/Foto_Mario Moscatelli

Lixão avança sobre manguezais em São Gonçalo/Foto: Mario Moscatelli

O lixo mundial deve ter um aumento de 1,3 bilhão de toneladas para 2,2 bilhões de toneladas até o ano de 2025, segundo as estimativas do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Para os especialistas da entidade, a gestão dos resíduos e o descarte correto de materiais se torna cada dia mais imprescindível para que o mundo caminhe para um desenvolvimento sustentável.

O principal problema, de acordo com informações do órgão, é preço do sistema de coleta e reaproveitamento de lixo. Ele é um dos serviços públicos mais caros em todo o mundo. No Brasil, boa parte do lixo produzido aqui termina em lugares inadequados. Nos últimos dez anos, a população do Brasil aumentou 9,65%. No mesmo período, o volume de lixo cresceu mais do que o dobro disso, 21%, conforme pesquisa divulgada pela coluna Sustentável do Jornal da Globo, em 2013. Isso significa mais consumo, gerando mais lixo, que nem sempre vai para o lugar certo. Segundo a Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais), apenas no ano passado, foram descartados 24 milhões de toneladas de resíduos em lugares inadequados. Isso seria suficiente para encher 168 estádios de futebol do tamanho do Maracanã. A Política Nacional de Resíduos Sólidos determina que os lixões devem ser erradicados e substituídos por aterros sanitários, até o fim desse ano.

A importância da coleta seletiva

O Brasil produz, atualmente, cerca de 228,4 mil toneladas de lixo por dia, segundo a última pesquisa de saneamento básico consolidada pelo IBGE, em 2000. O chamado lixo domiciliar equivale a pouco mais da metade desse volume, ou 125 mil toneladas diárias. Do total de resíduos descartados em residências e indústrias, apenas 4.300 toneladas, ou aproximadamente 3% do total, são destinadas à coleta seletiva. Ela possui um papel muito importante para a construção de um meio ambiente mais sustentável. Por meio delas, recuperam-se matérias-primas que de outro modo seriam tiradas da natureza. A ameaça de exaustão dos recursos naturais não-renováveis aumenta a necessidade de reaproveitamento dos materiais recicláveis, que são separados na coleta seletiva de lixo.

O biólogo e professor de gerenciamento de ecossistemas, Mario Moscatelli, explica o motivo pelo qual poucas pessoas separam o lixo reciclável em casa.“É um problema de natureza cultural bem como o processo de coleta de resíduos que no Rio de Janeiro mistura tudo nos compactadores de resíduos, portanto não há o hábito nem tão pouco políticas públicas que estimulem a separação”, afirmou.

“Infelizmente nossos gestores públicos e nossas lideranças políticas brasileiras do século XXI ainda vivem no século XVIII, e consequentemente tratanto os recursos naturais como de uma colônia de exploração onde o que interessa é faturar a qualquer preço”

Para o ambientalista, falta vontade política para transformar essa realidade. “Temos que entender que lixo é matéria prima e energia, que podem e devem ser reaproveitadas, em favor do ambiente, da sociedade (pela geração de empregos), mas infelizmente nossos gestores públicos e nossas lideranças políticas brasileiras do século XXI ainda vivem no século XVIII, e consequentemente tratando os recursos naturais como de uma colônia de exploração onde o que interessa é faturar a qualquer preço. Simplesmente não há vontade política nem tão pouco massa crítica da sociedade em exigir políticas consistentes na área de resíduos”, criticou Mario.

A Secretaria Estadual do Ambiente (SEA) lançou, em outubro desse ano, o Pacto da Reciclagem para estimular a redução e a reutilização de resíduos. O programa reúne diversos projetos direcionados ao reaproveitamento de resíduos sólidos no estado. Entre os objetivos da iniciativa, está o fortalecimento da cadeia de reciclagem e o tratamento adequado de lixo. A principal meta é que o índice da coleta seletiva, que atualmente está em aproximadamente 3%, chegue a 10% até o ano que vem.

Benefícios para o meio ambiente e para o bolso

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