De olho nos morcegos

Laboratório do Instituto de Biologia da Universidade Rural pesquisa comportamento de morcegos no Rio de Janeiro e Minas Gerais

Victor Sena

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Imagine a cena: cinco ou quatro pesquisadores, no meio do mato, estendendo redes de nove metros de comprimento nas árvores, ao pôr-do-sol. É desta maneira que os membros do Laboratório de Diversidade de Morcegos da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) capturam as espécies para verificar como é a população desses animais. O Laboratório, coordenado pelo professor Carlos Esberárd, retira amostras de oito locais diferentes por ano. No ano passado, um dos pontos foi o Vale do Rio Sahy, em Mangaratiba (RJ). Para saber o número de espécies que ocorrem ali, os pesquisadores precisam recolher mil indivíduos. Na  XXIV Jornada de Iniciação Científica da Universidade Rural, o grupo apresentou os resultados de suas rondas de 12 horas em volta das redes: 28 espécies de morcegos são encontradas no Vale.

No fim do dia, os grupos começam a armar as redes. Geralmente, são instaladas perto de espelhos d’água e bloqueando trilhas, por onde os morcegos costumam passar. Uma das bolsistas do Laboratório, Bruna Xavier, estudante de Biologia na UFRJ, 7º período, costuma ir a campo. Com os colegas, colocam as redes em duas horas. “Quando começa a anoitecer, a gente inicia a ronda. Se tem três pessoas, cada um fica responsável por quatro horas de ronda. De 15 em 15 minutos, a pessoa vai para rede, coleta e depois volta. Colocamos os morcegos em saquinhos de pano, com as mãos protegidas por luvas grossas. Tem noites que caem mais de 100 bichos”, relata a estudante.

Os animais são retirados da rede assim que ficam presos. Começa, então, o processo de triagem. Medem o antebraço, pesam, identificam as espécies, retiram os parasitas. Os ácaros, carrapatos e pequenas moscas dos morcegos também são objetos de estudo do laboratório. São as pesquisas relacionadas aos hectoparasitas. Com a coleta, é possível encontrar informações para pesquisas diferentes. O Laboratório, além de estudar a riqueza de espécies do local e os parasitas dos animais, também tem pesquisas sobre a reprodução, atividade, diversidade.

“A área em que eu queria trabalhar era a ecologia. No projeto, estudamos a relação do morcego com o ambiente”,  disse Bruna Xavier, que pesquisa a variação das espécies ao longo das altitudes. “Estou pegando uma faixa do Rio para Minas. Vamos subindo e coletando. Há outros projetos também relacionados a altitude. Dá para verificar várias coisas: a variação do parasitismo, como é a atividade deles.”

Segundo o professor Esberard, a conclusão sobre essa variação de altitude que Bruna estuda é a seguinte: a cada 400 metros, é “perdida” uma espécie. “A serra, por ser mais fria, com ambiente mais limitante, é mais difícil para as espécies. No nível do mar, identificamos 28 espécies, 22 a mil metros e 17 espécies a 1500 metros”, explica o pesquisador.

O laboratório instala redes em cinco pontos com variações de altitude: do Vale do Sahy até Aiuroca (MG), passando por Itatiaia (RJ). “A gente marca o bicho quando solta. Então, temos recapturado animais em pontos diferentes daquele em que foi capturado. Eles vão do litoral até a serra, migram para a serra no inverno e voltam para o litoral no verão, como a gente faz”, disse, com bom humor, o professor Esberárd.

Espécies raras –  No Vale do Sahy, espécies raras foram coletadas. O Macrophylum macrophylum só existe em quatro localidades no Rio de Janeiro. A espécie Thyropthera tricolor, que tem ventosas nos dedos e mora dentro de bananeiras, é difícil de capturar, porque tem um sonar bom o suficiente para não perceber a rede.

O Laboratório também já descreveu espécies desconhecidas. Em 2013, uma delas recebeu o sobrenome do ex-reitor Adriano Lúcio Peracchi, que também trabalha com morcegos. A espécie se chama Lanchopylla peracchii. A espécie se alimenta de néctar e ocorre no sul de São Paulo, em todo o estado do Rio e no sul do Espírito Santo.

“Depois de uma amostra boa, comparamos com outras espécies e vimos que ela era diferente. A experiência diz tudo. Quando ficamos em dúvida, a gente traz para ser identificado aqui. Aí, ele começa a fazer parte da coleção de morcegos. Olhamos o tamanho, cor do pele, orelha. Aí, rapidamente chegamos ao gênero, depois a espécie. Normalmente, um ou dois de cada espécie são sacrificados no local para fazer parte da coleção”,  explica o professor Esberárd.

Além dos pontos em continentes, o Laboratório também pesquisa a riqueza de espécies em ilhas. Como elas têm uma área menor e são isoladas, os pesquisadores esperavam menos espécies do que foi encontrado. “Vimos que não é assim. É a história da ilha que determina quantas espécies ela terá. Na Ilha da Gipóia, em Angra dos Reis, esperávamos no máximo 20 espécies. Ela tem 33”,  disse o professor.  “Em vários locais com degradação ambiental, percebemos um número de espécies menor. Em Valença, está abaixo do que esperávamos. É uma mata de apenas 600 hectares, cercada de muito pasto”.

No câmpus Seropédica da Universidade Rural, os pesquisadores também colocam redes. A região de Itaguaí e Seropédica são um dos cinco pontos do estado. Já foram identificados 35 espécies na região. Por ter pouca mata atlântica preservada, há mais morcegos insetívoros do que frutívoros voando pela Universidade.

Microalgas nocivas à saúde são encontradas em Araruama

Esses seres formados por apenas uma célula podem produzir toxinas capazes de levar à morte

Gian Cornachini

A estudante de Ciências Biológicas Juliana Souza de Oliveira, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), divulgou uma pesquisa em que afirma ter identificado espécies de microalgas nocivas à saúde humana e ao meio ambiente na Lagoa de Araruama, no norte-fluminense. O trabalho, intitulado “Ocorrência de microalgas potencialmente nocivas identificadas na Lagoa de Araruama, na região de Iguaba Grande, na estação de verão”, foi apresentado na II Reunião Anual de Iniciação Científica da UFRRJ, em 2014. A pesquisa surgiu na universidade a partir do doutoramento em Ciência e Tecnologia de Alimentos de Thatiana da Paz, concluído em abril do ano passado, que propôs a identificação desses seres produtores de toxinas na Região dos Lagos.

Mapa da Lagoa

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De acordo com o relatório da estudante, das mais de 5000 espécies de microalgas conhecidas, 90 são capazes de produzir toxinas que representam riscos à fauna e flora de ambientes aquáticos, podendo acarretar na morte de animais marinhos e envenenamento de pessoas que os consomem. A partir de amostras de água colhidas na Lagoa de Araruama, a estudante está quantificando a presença da microalga da espécie Prorocentrum, um ser unicelular que pode produzir toxinas que acabam sendo filtradas, principalmente, por moluscos. Se elas estiverem presentes em uma concentração superior a 45 microgramas por 100 gramas de carne desses animais, a ingestão por humanos acarretará em uma intoxicação com sintomas de diarreia e vômito, podendo levar à morte.

“O Prorocentrum produz o ácido ocadáico, que se for ingerido a partir de um alimento que tem essa toxina, há chances de a pessoa morrer, ainda mais porque o médico acaba tratando o caso como uma virose, e não diretamente a toxina”, explica Juliana. “E também tem o problema de que não adianta cozinhar o animal, porque a substância não quebra com alta temperatura”, aponta ela.

Microalgas

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Apesar de ter sido identificada a presença dessas microalgas na lagoa, o estudo não é capaz de afirmar se elas estão produzindo as toxinas, como afirma a professora Gesilene Mendonça de Oliveira, do Departamento de Tecnologia de Alimentos da UFRRJ e orientadora da pesquisa: “Existe um mecanismo de produção dessa substância que a própria comunidade científica desconhece, e que vai depender da temperatura da água, se há muita incidência de luz solar e acúmulo de matéria orgânica”, observa a professora.

No entanto, há o consenso de que o aumento da população de microalgas pode indicar a produção das toxinas, e o boom desses seres também está atrelado à degradação das águas provocada por humanos: “A partir do momento em que o homem polui as águas, ele tem culpa”, ressalta Gesilene de Oliveira. “Há despejo de esgoto doméstico e industrial na Lagoa de Araruama. A concentração de nutriente na água aumenta, e se tiver luz e temperatura adequada, pode acontecer a proliferação das microalgas”, lembra ela.

Juliana AmostrasSegundo Juliana de Oliveira, a pesquisa tem caráter fundamental para chamar a atenção sobre os riscos de comercializar moluscos e outros pescados provenientes de águas sem monitoramento. Ela afirma que o Ministério da Pesca e Agricultura (MPA) e as empresas distribuidoras dos pescados fazem a análise dos animais apenas após a pesca, mas ressalta que as medidas de segurança devem começar desde o habitat das espécies: “Os laboratórios observam apenas a umidade dos animais e a presença de fungos e bactérias. O problema é que a presença das toxinas não será identificada nos peixes e moluscos depois que elas estiverem na carne deles. E se eles não analisarem a água antes, essas substâncias podem chegar na cadeia final e intoxicar a gente, sendo que isso poderia ter sido impedido lá no começo”, lamenta a estudante.

Ainda que a análise de todo o processo seja a melhor opção para evitar o envenenamento, a orientadora Gesilene de Oliveira lembra que o acesso aos laboratórios precisa ser mais democrático, pois pescadores artesanais que trabalham por conta própria não têm condições financeiras de submeter seu pescado aos testes: “Depois que o governo lançou as instruções normativas para a comercialização do pescado, criou-se um gargalo para muitos maricultores e pescadores. Eles precisam do atestado para ter o produto liberado, mas o pescador artesanal não tem o dinheiro que grandes empresários têm para conduzir esse processo e certificar a produção, e aí eles acabam se sentindo na ilegalidade”, afirma a professora. “O MPA precisa estar trabalhando nisso para que essas demandas sejam resolvidas”.

ONU estima que lixo produzido no mundo será 70% maior em 2030

Segundo o Pnuma, a consequência da gestão incorreta dos resíduos pode causar grandes danos à população

João Pedro Araújo Nunes

Lixao avanca sobre manguezais_ em Sao Goncalo/Foto_Mario Moscatelli

Lixão avança sobre manguezais em São Gonçalo/Foto: Mario Moscatelli

O lixo mundial deve ter um aumento de 1,3 bilhão de toneladas para 2,2 bilhões de toneladas até o ano de 2025, segundo as estimativas do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Para os especialistas da entidade, a gestão dos resíduos e o descarte correto de materiais se torna cada dia mais imprescindível para que o mundo caminhe para um desenvolvimento sustentável.

O principal problema, de acordo com informações do órgão, é preço do sistema de coleta e reaproveitamento de lixo. Ele é um dos serviços públicos mais caros em todo o mundo. No Brasil, boa parte do lixo produzido aqui termina em lugares inadequados. Nos últimos dez anos, a população do Brasil aumentou 9,65%. No mesmo período, o volume de lixo cresceu mais do que o dobro disso, 21%, conforme pesquisa divulgada pela coluna Sustentável do Jornal da Globo, em 2013. Isso significa mais consumo, gerando mais lixo, que nem sempre vai para o lugar certo. Segundo a Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais), apenas no ano passado, foram descartados 24 milhões de toneladas de resíduos em lugares inadequados. Isso seria suficiente para encher 168 estádios de futebol do tamanho do Maracanã. A Política Nacional de Resíduos Sólidos determina que os lixões devem ser erradicados e substituídos por aterros sanitários, até o fim desse ano.

A importância da coleta seletiva

O Brasil produz, atualmente, cerca de 228,4 mil toneladas de lixo por dia, segundo a última pesquisa de saneamento básico consolidada pelo IBGE, em 2000. O chamado lixo domiciliar equivale a pouco mais da metade desse volume, ou 125 mil toneladas diárias. Do total de resíduos descartados em residências e indústrias, apenas 4.300 toneladas, ou aproximadamente 3% do total, são destinadas à coleta seletiva. Ela possui um papel muito importante para a construção de um meio ambiente mais sustentável. Por meio delas, recuperam-se matérias-primas que de outro modo seriam tiradas da natureza. A ameaça de exaustão dos recursos naturais não-renováveis aumenta a necessidade de reaproveitamento dos materiais recicláveis, que são separados na coleta seletiva de lixo.

O biólogo e professor de gerenciamento de ecossistemas, Mario Moscatelli, explica o motivo pelo qual poucas pessoas separam o lixo reciclável em casa.“É um problema de natureza cultural bem como o processo de coleta de resíduos que no Rio de Janeiro mistura tudo nos compactadores de resíduos, portanto não há o hábito nem tão pouco políticas públicas que estimulem a separação”, afirmou.

“Infelizmente nossos gestores públicos e nossas lideranças políticas brasileiras do século XXI ainda vivem no século XVIII, e consequentemente tratanto os recursos naturais como de uma colônia de exploração onde o que interessa é faturar a qualquer preço”

Para o ambientalista, falta vontade política para transformar essa realidade. “Temos que entender que lixo é matéria prima e energia, que podem e devem ser reaproveitadas, em favor do ambiente, da sociedade (pela geração de empregos), mas infelizmente nossos gestores públicos e nossas lideranças políticas brasileiras do século XXI ainda vivem no século XVIII, e consequentemente tratando os recursos naturais como de uma colônia de exploração onde o que interessa é faturar a qualquer preço. Simplesmente não há vontade política nem tão pouco massa crítica da sociedade em exigir políticas consistentes na área de resíduos”, criticou Mario.

A Secretaria Estadual do Ambiente (SEA) lançou, em outubro desse ano, o Pacto da Reciclagem para estimular a redução e a reutilização de resíduos. O programa reúne diversos projetos direcionados ao reaproveitamento de resíduos sólidos no estado. Entre os objetivos da iniciativa, está o fortalecimento da cadeia de reciclagem e o tratamento adequado de lixo. A principal meta é que o índice da coleta seletiva, que atualmente está em aproximadamente 3%, chegue a 10% até o ano que vem.

Benefícios para o meio ambiente e para o bolso

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CTR é tema de estudos em Seropédica

Tayná Bandeira

“O Rio não vai mais permitir as violências contra o meio ambiente como foi esse crime ambiental por mais de 30 anos aqui em Gramacho”. Essas foram as palavras do prefeito Eduardo Paes em junho de 2012, data de fechamento do aterro de Gramacho, o maior da América Latina. O local agora conta com uma Usina de Biogás para fins energéticos. Com o fechamento do aterro, todo lixo foi transferido para a Central de Tratamento de Resíduos (CTR), em Seropédica, região metropolitana do Rio.

Em Gramacho, nos seus 34 anos de funcionamento, o que estava ocorrendo era um crime ambiental, contaminando diretamente a baía de Guanabara, trazendo doença, mau cheiro e transtorno para a localidade. Com a transferência, ocorrerá o tratamento de todo o lixo produzido no estado do Rio de Janeiro, incluindo a baixada fluminense. Segundo o site da empresa administradora do local e do secretário municipal de conservação e serviços públicos Carlos Roberto Osório em entrevista ao site G1, em 2012, a Central é a mais moderna, segura e a melhor da América do Sul, sendo construída a partir das Normas internacionais de respeito ao meio ambiente.

O assunto gera polêmica entre os moradores de Seropédica e ambientalistas. Segundo os órgãos responsáveis, como visto anteriormente, a central é amiga do ecossistema e trabalha com a sustentabilidade. Segundo Osório, o local foi escolhido por conta da baixa densidade populacional. O aterro está distante, mas nos arredores existem famílias que praticam a agricultura orgânica e vivem dela e, para eles, a vida mudou para pior, pois convivem com as moscas e o mau cheiro da Central. Em entrevista ao site G1, moradores relatam  sofrimento e problemas de saúde, por conta dos resíduos da Central.  Para ambientalistas e professores da área, outro problema causado pela instalação do aterro em Seropédica é uma possível contaminação do aquífero Piranema, importante recurso hídrico da região, que abastece também o Guandu, rio que proporciona água potável para a região metropolitana do Rio de Janeiro.

Imagem: Lab de Geoprocessamento da UFRJ

A pesquisa

Por ser um tema recorrente e importante, a aluna Maria Affonso Penna, estudante de Geografia na  UFRuralRJ fez uma monografia sobre a Central de Tratamento de Resíduos e apresentou parte do trabalho  na Reunião Anual de iniciação Científica (RAIC), realizada na universidade, em setembro de 2014. Moradora de Seropédica, escolheu a Central como foco de sua pesquisa porque queria colaborar com a cidade de Seropédica. “Quando comecei a escrever a monografia, tive interesse em escrever alguma coisa que tivesse inserida em Seropédica. Foi importante fazer o trabalho porque vi que o problema não era só essa CTR e sim toda a nossa relação com os nossos resíduos. Minha intenção não era apresentar a CTR como culpada ou inocente no processo e sim estudar para a partir daí traçar algumas conclusões. Foi muito difícil o levantamento de informação porque não encontramos muita coisa nos sites governamentais.”, disse.

A preocupação de Maria Penna é a mesma de moradores de Seropédica: A construção de um aterro em um ambiente voltado para a agricultura orgânica e plantações familiares. Na cidade existia uma lei ambiental que proibia a instalação de lixões, mas sofreu emendas para a construção da CTR. Para Penna, ainda existem muitas questões a serem trabalhadas para o aterro atender às expectativas da sociedade. “Existem muitas coisas para serem alteradas para a CTR atender às expectativas ambientais, pois o licenciamento ambiental foi feito de maneira incorreta. A população não ganhou com esse processo. Não existe uma troca no quesito de educação ambiental. É necessário uma fiscalização forte, melhoramento das vias públicas e uma coleta seletiva, que não existe em Seropédica”. Ela também ressalta a importância de uma gestão que dê continuidade aos trabalhos preventivos: “O problema da questão ambiental é que as políticas não acompanham. A cada gestão que entra se ignora a gestão passada. Para ter um planejamento ambiental eficiente, a palavra é continuidade. Pode monitorar, mas não encerrar. A questão ambiental é de longo prazo, as respostas são demoradas. É difícil encontrar um local para um aterro. Torço para que esse aterro seja um bom exemplo pra gente”.

O professor Leandro Dias Oliveira, orientador de Maria Penna e pesquisador na área da sustentabilidade na UFRuraRJ, acredita que a preocupação com a concentração dos resíduos em Seropédica poderia ser evitada com uma política governamental mais organizada. “O lixo na verdade é um problema congênito do sistema. A questão do lixo é um problema de Estado, o Estado tem que ter maior participação. Na verdade, cada município deveria cuidar de seus resíduos. Em relação à CTR, se pensou em um esconderijo espacial para empurrar o lixo. Deveria haver um controle social maior, mas estamos falando de algo que é quase utópico, um diálogo muito profundo que o Brasil ainda não aprendeu a fazer com a sociedade civil”, disse o professor. “Quanto a CTR temos duas questões: A melhoria foi um pouco mais de planejamento na borda da metrópole. O local onde o aterro sanitário está instalado foi escolhido por ser mais afastado e foi escolhido ali estrategicamente porque a região tem uma conexão de transporte, ou seja, uma facilitação de despejo. Por outro lado, no meu olhar o que mais causa constrangimento é que não houve nenhum tipo de diálogo entre as autoridades e os moradores de Seropédica. Então tudo que é instalado como um rolo compressor, de cima pra baixo gera esse tipo de conflito”, afirmou o professor.

Para saber mais sobre o solo do aterro, conversamos com o professor e engenheiro agrônomo da UFRRJ Everaldo Zonta. Ele afirma que se não houver uma execução correta do projeto, ocorrerá contaminação do lençol freático e do aquífero Piranema. “Há a necessidade de uma fiscalização intensa por parte dos órgãos ambientais. Com a vinda do aterro, houve intensa desvantagem ambiental e social”, disse Zonta. Quando perguntado sobre o solo de um aterro, o professor deu um alerta: “Nesses locais podem ser replantados alguns vegetais que não entrem na cadeia alimentar do homem. A recuperação do solo pode ser rápida, dependendo das espécies que você planta”. De acordo com os entrevistados, deve haver uma maior fiscalização no local, para que tudo ocorra de acordo com as leis ambientais e para não ter prejuízo de ambas às partes. O diálogo com os moradores também é necessário, questão de cidadania. Se cada município cuidasse de seu lixo, o caminho para uma consciência ambiental ficaria mais fácil. Muitos caminhos ainda estão em aberto, possibilidades existem e podem ser um tema abordado pelas autoridades.

Meio ambiente, saúde e infraestrutura de Seropédica sofrem com falta de ações

Reportagem em aúdio* aborda pontos críticos da urbanização do municipío

Texto: Analine Molinário, Laila Carvalho e Ramon César

R. Tharsis e Paula. Bairro Fazenda Caxias. Foto: Ramon César

R. Tharsis e Paula, bairro Fazenda Caxias.  Foto: Ramon César

A reportagem em áudio aborda problemas de infraestrutura enfrentados pela cidade da Baixada Fluminense no Rio de Janeiro, Seropédica. De acordo com dados do censo 2010 do IBGE, 60% das ruas não possuem saneamento, 70% não têm calçadas e em 78% não há bueiros. Em época de chuvas, o esgoto chega a invadir casas, e as ruas ficam com difícil acesso. Há incidência de doenças relacionadas à falta de saneamento básico.

Além de moradores, a equipe ouviu o secretário de obras da cidade, Fernando Barros, e os professores Francisco de Francisco e Henrique Esher, do Departamento de Geociências da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, que também destacam os problemas de infraestrutura no campus da Universidade,  em Seropédica.

Para ouvir a matéria, clique no player abaixo.

* A reportagem foi apresentada pelos alunos à disciplina de radiojornalismo do curso de Jornalismo da UFRRJ (dezembro/2012)

Aterro de Seropédica: solução que virou problema

Bernardo Augusto

Quase dois anos após a inauguração do aterro sanitário de Seropédica, prejuízos provocados pelo empreendimento podem ser percebidos, tanto por moradores quanto pelos órgãos responsáveis pela fiscalização. Esses problemas geraram várias multas para a Ciclus, empresa que administra o centro de tratamento de resíduos. O motivo das penalidades é o não cumprimento de alguns requisitos obrigatórios para o bom funcionamento do aterro, como a construção de um lugar para tratar do chorume e a construção de um cinturão verde.

Algumas irregularidades são apontadas pela professora Tatiana Cotta, do Departamento de Ciências Jurídicas da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Ela conta que além do local escolhido, em Santa Rosa, Chaperó, estar sob proteção ambiental e ser um solo arenoso, relatórios contrários apresentados, inclusive pela Ciclus, foram suprimidos pelas autoridades municipais para que o aterro fosse instalado. Outras tecnologias mais avançadas não chegaram a ser discutidas, como a transformação do lixo em combustível para ônibus.

Hoje, segundo a professora, a empresa que administra o aterro leva o chorume para Niterói. Essa substância quando não tratada traz grande mau cheiro. Tatiatana Cotta diz que como não é possível tratar a quantidade total deste resíduo nesse município, há relatos de que o resto vem sendo despejado em plena Baia de Guanabara

Outros problemas foram aparecendo com o tempo, principalmente para população que vive perto do aterro. Animais peçonhentos são atraídos pelo lixo e o mau cheiro. Problemas respiratórios tornaram-se mais frequentes na população devido ao aumento do movimento dos caminhões  que transportam cerca de 30 mil toneladas semanais – só da cidade do Rio de Janeiro – por uma estrada sem pavimentação, até o aterro.

A presença de moscas varejeiras também é comum, levando a empresa a distribuir à população remédios contras os insetos. Relatos feitos por moradores à professora dizem que toda noite um funcionário do aterro solta fogos de artifício para espantar os urubus do local.

Ainda segundo moradores, a água que a população costuma pegar em um poço da região sofreu alteração no sabor desde o começo do funcionamento do aterro, levantando a hipótese de uma possível contaminação do lençol freático. A desvalorização dos imóveis é outro problema, já que as pessoas não conseguem vendê-los devido à localização e ao frequente mau cheiro do local.

O aterro não afeta somente os que vivem às proximidades do terreno. De acordo com Tatiana, uma empresa à cerca de 10Km tem que usar artifícios contra as moscas varejeiras, principalmente no refeitório. Alunos que vêm de Itaguaí para a UFRRJ já sentem o mau cheiro do aterro na estrada que liga os dois municípios. A localização da fazenda é quase na divisa entre Seropédica e Itaguaí.

Alguns pontos positivos são destacados pela professora como benefícios tributários e o ICMS ecológico. A economia é outro ponto positivo, principalmente para os empreendimentos da região, devido ao aumento da circulação de trabalhadores do aterro sanitário, que necessitam de hotéis e alimentação.

Planejamento urbano é essencial para evitar desastres

Analine Molinário

Em janeiro deste o ano, os brasileiros ficaram chocados com a tragédia provocada pelas chuvas na região serrana do Rio de Janeiro. Além das perdas materiais, mais de novecentas pessoas morreram em virtude dos temporais e avalanches que atingiram Nova Friburgo, Petrópolis, Teresópolis, Sumidouro e São José do Vale do Rio Preto. Para discutir sobre a catástrofe, foi realizado um debate, no dia 21, no auditório Gustavo Dutra, por ocasião da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia. Com o tema “Desastres naturais: região serrana do Rio de Janeiro”, a discussão foi conduzida por três docentes e pesquisadores do departamento de geociências da UFRRJ.

Francisco Martins

O professor Francisco Carlos de Francisco relatou que o Brasil não tem um programa efetivo para prevenção de desastres. Somente após os eventos, estão sendo criados centros de estudos na região afetada. De acordo com Franciso, os principais motivos dos desastres naturais da região serrana do Rio são o aumento da população, ocupação desordenada, intenso processo de urbanização e industrialização e a poluição do ar. Com relação aos impactos relativos aos desastres, o professor Francisco destaca as perdas materiais e humanas e a interrupção da atividade econômica das áreas atingidas.

As soluções se concentram na retirada das pessoas das áreas de risco, remoção do lixo e principalmente, na conscientização da população, afirmou o pesquisador Francisco José Corrêa Martins.  Ele apontou a falta de ações do poder público para resolver os problemas causados nas chuvas de janeiroe a importância do planejamento urbano  para evitar desastres naturais com perdas humanas.

Para José Miguel Peters Garcia, é urgente um trabalho de prevenção. “Prevenir é mais barato que remediar. Por isso, é tão importante que as autoridades olhem para o problema e tomem medidas preventivas com relação à região serrana. Se nada for feito podem acontecer mais mortes nas próximas chuvas de verão”, alertou o professor.

Jardim Botânico da Rural mostra espécies em perigo de extinção

Mariana Dias e Lucas Cruz
Fotos: Mariana Dias

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Sair da sala de aula para conhecer o ipê, o jacarandá-da-bahia, a braúna e outras espécies da flora brasileira foi o programa de alunos do 7º ano da Escola Municipal de Seropédica Valtair Gabi.  Na manhã do dia 20, eles  visitaram o Jardim Botânico da UFRRJ, na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, e participaram da oficina “Verde em Perigo: Conhecendo espécies de plantas ameaçadas de extinção”. Bianca Ferreira,  aluna do 8º período de Biologia, e Verônica Moura, professora de botânica,  ambas da UFRRJ, guiaram os estudantes pelo passeio.

A oficina começou com uma explicação sobre a importância da preservação das espécies. Depois, seguiu por um passeio no Jardim Botânico da Universidade para a identificação de algumas espécies ameaçadas de extinção. Os alunos estavam acompanhados da professora de Ciências Candida Rezende, que ressaltou a importância de visitas como essas: “Tudo que posso costumo levar para sala de aula, mas têm algumas coisas que não dá. Em visitas como essas, eles tomam contato com o que estudam na escola”.  Durante a caminhada, os visitantes aprenderam curiosidades e características de diversas árvores, como os espinhos usados para a defesa e as sementes e frutos de cada uma.

No sorteio de mudas de pau-brasil, um dos alunos sorteados foi Lizandra Basílio, 12 anos. Para ela, a oficina foi, além de divertida, um aprendizado. “Adorei o passeio, porque pudemos ver aqui árvores mencionadas pela professora na escola. Adoro ciências, e realmente vi como é importante preservar as plantas”.

Depois de observar as árvores do Jardim Botânico, a turma foi ver a estufa de mudas. Os alunos de Agronomia Tiago Sampaio, do 7º período, e Maria Laura Ferreira, do 6º, mostraram para os jovens a importância dos vegetais no tratamento de doenças e do uso para produtos de higiene e cosméticos.  Além das informações e do conhecimento adquirido, os visitantes colheram trevos de quatro folhas para levar para casa.

Educação para o aproveitamento de resíduos sólidos

Letícia Santos

A reutilização de objetos que vão parar no lixo é um assunto urgente ao passo que cresce a população urbana. No último dia 18, o professor Francisco Carlos de Francisco, do departamento de Geociências, da UFRRJ discutiu o problema no minicurso “Resíduos sólidos urbanos: aproveitamento e utilização”. O evento foi realizado no auditório Paulo Freire (ICHS), por ocasião da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, e mostrou a importância dos resíduos sólidos para a sociedade.

Professor Francisco de Francisco

Com o aumento do número de habitantes do planeta, o consumo também cresce e gera maior quantidade de resíduos. Uma saída para o controle da produção de lixo, apontada por Francisco, é a reeducação com base na escola. Segundo ele, as crianças não têm uma visão massificada e podem ser educadas para o aproveitamento do lixo. “Alunos do ensino fundamental precisam de orientações para o tratamento de resíduos sólidos, mas é necessário também que no ensino médio haja trabalhos de reutilização desses materiais”, explica o professor. O lixo é considerado um subproduto econômico e tem valor de uso.

Dados exibidos por Fancisco de Francisco mostram que 260 mil toneladas de lixo são produzidas diariamente nas cidades brasileiras. Desta quantidade,  59%  vão para o lugar onde se deposita o lixo em uma área urbana. Aterros controlados, aterros sanitários e outras formas corretas de finalização de resíduos recebem apenas 13% da produção total.

Para fazer o  aproveitamento dos resíduos é preciso saber de sua origem.  O lixo pode ser  vegetal (sobra de alimentos, papéis, madeiras), animal (carnes, ossos, couros, laticínios), mineral (latas, vidros, louças, cerâmicas) e sintéticos (plásticos, borrachas, vinil, tecidos).  A composição da produção diária, em dezembro de 2010, era de 53% de matéria orgânica, 25% de papel e papelões, 3% plástico, 2% vidro e 15% de outros componentes. O alumínio é o produto mais reutilizado por causa de seu custo, pois o valor de sua extração é muito maior que o de reciclagem. Por outro lado, existem produtos largados na natureza em grande porcentagem. Apenas 15% do plástico é reciclado enquanto 85% dele está na natureza. A estimativa da Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos, em 2010, é de que apenas 300 mil pneus de 100 milhões são reciclados. Por mais que existam formas de tratamento de lixo como compostagem, reciclagem e coleta seletiva, a maior preocupação, na visão de Francisco, é que essa quantidade de resíduos produzidos diariamente vai se multiplicando a cada ano.

Para finalizar, o professor Francisco Carlos de Francisco apresentou algumas imagens de lixões. Entre eles, estava o de Seropédica com vários resíduos hospitalares e outros despejos ilegais.

Professores da Rural discutem o futuro da baixada de Sepetiba

Jéssica Reis

Na manhã de terça-feira, 18, no Salão Azul, prédio principal (P1) da UFRRJ, professores da UFRRJ debateram “O Risco, a Dinâmica Climática e a Percepção de risco na baixada de Sepetiba, Rio de Janeiro”. A mesa-redonda foi organizada pela professora Regina Cohen e os palestrantes convidados foram os professores  Andrea Sampaio, Andrews Lucena e Décio Tubbs. O evento fez parte da Semana de Ciência e Tecnologia.

Sepetiba está sujeita a intervenções de estatais e de grandes empresas", revela Andrews

O professor Andrews Lucena chamou atenção para o crescente aumento das temperaturas mínimas, em todas as estações do ano em Sepetiba. A esse dado, atribuiu o crescimento da área urbana que, em 1990, teve o índice mais alto de calor. Utilizando as estatísticas climatológicas do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET-RJ), Andrews alertou para o grande indicativo de impacto no solo em função de temperaturas elevadas. Segundo ele, a Terra está demorando a devolver a energia solar recebida, o que é um dos fatores do chamado aquecimento global.

A seguir, o diretor geral do Comitê Guandu, Décio Tubbs, discutiu a questão da gestão hídrica – as preocupações com a utilização da água nos municípios da Baixada Fluminense. Apontou os riscos de qualidade e de quantidade pelos quais o abastecimento de água está sujeito. Segundo o professor, o gerenciamento da água precisa de organismos coletivos como os comitês. A água é usada por agentes com interesses distintos e por isso necessita de decisões coletivas. Tubbs aconselhou a população a ficar de olho no marketing de sustentabilidade utilizado pelas empresas. Destacou que necessário mesmo seria olhar para os problemas de todos os municípios de maneira integrada.

No evento estavam presentes alunos e professores da universidade e também alunos da rede pública do município de Seropédica.