Revolução em pequenas medidas

Nanotecnologia impulsiona avanços na medicina e apresenta grandes projetos para o futuro

Rodrigo Cabelli

Robôs minúsculos capazes de detectar e curar uma doença dentro de sua corrente sanguínea. Cena de ficção científica? Com o desenvolvimento da nanotecnologia estamos mais próximos disso do que nunca. Esse conceito foi criado pelo físico Richard Feynman. Após mais de 50 anos de estudos sobre a capacidade de manipulação de átomos e moléculas, essa área já ganha dimensão de realidade nos dias atuais.

Para saber mais sobre o assunto, conversamos com o mestrando em engenharia da nanotecnologia pela UFRJ Erick Lorenzato, que nos falou sobre os avanços impressionantes que essa tecnologia está permitindo e a capacidade de expansão do setor. Ele nos explicou que micro equipamentos surgiram representativamente no mercado, solucionando problemas inviáveis aos aparelhos maiores. “Esse tipo de tecnologia está presente em muitas áreas e com vários tipos de atuação”, explica Lorenzato.

O desenvolvimento de tecnologias com os nanômetros – medidas mil vezes menores que uma cabeça de alfinete – estão permitindo os mais diversos avanços em diferentes áreas da ciência. Em meio a uma grande expansão, o setor medicinal é um dos principais favorecidos e já conta com resultados positivos.

aplicações nanomedicinais / Foto:  Concept Medicals

aplicações nanomedicinais / Foto: Concept Medicals

Segundo Lorenzato, o trabalho com medidas inimagináveis ao olho humano é o sonho de consumo de qualquer cientista, permitindo aos profissionais desenvolver projetos muito interessantes. A indústria farmacêutica recebeu uma forte influência com o advento da nanotecnologia. Já estão em desenvolvimento remédios que controlam suas doses dentro do organismo do indivíduo (drug deliver) e até tratamentos com partículas de ouro para combater o Câncer e diversos vírus com forte poder de multiplicação, como o Ebola.

Se o presente da ciência tem como grande impulsor a nanotecnologia, o futuro dela será propriamente essa área e seus desenvolvimentos. Com isso, um microequipamento ganha forte poder: o lab-on-a-chip. Estes dispositivos já existem em estágio inicial e possuem a função de “realizar testes de diagnóstico rápido, o que é muito útil quando alguém tem uma doença que tem um curto cronograma para ser tratado” de acordo com Mark Morrison, CEO do Instituto de Nanotecnologia de Stirling, em entrevista ao The Guardian, no Reino Unido.

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Lab-on-chip feito de vidro. Foto: Polymer Solutions

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Esquema de lab on a chip. Fonte: Polymer Solutions

Mesmo que as complexidades da área ainda sejam estudadas, já existem diversos motivos para o grande investimento. Além das possibilidades inovadoras de manipulação, essa tecnologia tem como benefícios a baixa taxa de resíduos (diminuindo a poluição), melhor controle de processos e a resposta rápida e automatizada. O governo brasileiro deve atingir a marca de 1,5 trilhão de dólares até 2015 nesse setor, segundo a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial, e já existem cursos que visam formar profissionais para esse meio, tais como o curso de engenharia de nanotecnologia da UFRJ, criado em 2009.
Projetos mais ousados, tais como os nanorrobôs citados no início da matéria, ainda estão em processo inicial de desenvolvimento. Entretanto, a maioria dos sistemas que apresentamos estão em período de testes e alguns já são comercializados. Com o desenvolvimento de pesquisas e a intensa exploração desse meio, esses pequenos dispositivos de grandes resultados irão avançar ainda mais no progresso mundial.

Visão de estudantes sobre o Bolsa Família é tema de projeto universitário

Grupo Pet da UFRRJ analisa ideias de alunos do Ensino Médio sobre o programa do governo

Letycia Nascimento

Diversas são as opiniões sobre o Bolsa Família e na maioria dos casos elas  geram discussões acaloradas. A fim de saber o que pensam os alunos do Ensino Médio do município de Três Rios, o grupo PET (Programa de Educação Tutorial) Conexão de Saberes do Instituto de Três Rios (ITR), da UFRRJ, realizou  uma pesquisa para avaliar o desenvolvimento do Programa Bolsa Família. A pesquisa faz parte do projeto intitulado “Diálogos Universidade-Escola”.

O objetivo do projeto é também avaliar o desenvolvimento e implicações dos Programas sociais do governo na vida da população a partir das experiências e opiniões pessoais dos alunos de Ensino Médio da região. O projeto foi coordenado pela professora Fabiola Garrido,  do Curso de Gestão Ambiental do ITR.

A pesquisa com o Bolsa Família foi sugestão dos próprios estudantes do PET. O estudo foi realizado por meio de análises das opiniões sobre os cidadãos que recebem o programa, os preconceitos que os beneficiados enfrentam e a realidade experimentada por essas pessoas.

Visão dos alunos

As opiniões sobre o Projeto dividiram os entrevistados em dois grupos: aqueles que concordam e apoiam, por enxergar no Programa um meio de auxiliar às famílias de baixa renda a se desenvolver, sem que crianças precisem trabalhar, prejudicando os estudos. E aqueles que são contra por acreditar ser mais correto que o governo crie creches e escolas integrais para que as famílias tenham menos despesas com os filhos em casa e mais tempo para trabalhar.

Experiências colhidas entre os estudantes entrevistados mostraram que há sim aqueles beneficiados que quando não tem mais a necessidade de recebe-lo abrem mão do auxílio. Mas também há aqueles que se sentem o programa como um incentivo para não buscar empregos e ter mais filhos, já que o valor recebido é proporcional com o número de membros da família.

O grupo de universitários que conduziu as pesquisas juntos aos alunos do Ensino Médio constatou que os alunos tem uma visão boa sobre o que é o programa do governo federal, apesar das informações serem um tanto distorcidas, o que pode gerar opiniões equivocadas.

Um projeto com futuro

Apenas uma primeira etapa da pesquisa foi concluída, agora o objetivo é desenvolver pesquisas de opinião nas escolas privadas, que já autorizaram o desenvolvimento.

Fabioloa Garrido considera que “essa é uma ótima oportunidade de se garantir esclarecimento em relação a políticas que são dominadas por pesquisadores dentro da universidade.”, o que já enxerga desde que foi aluna de Biologia no Campus Seropédica onde só há um diálogo com o CTUR, escola técnica da própria universidade.

Os alunos que participaram da pesquisa são de diversos cursos da Universidade Rural e usaram conhecimentos adquiridos em seus cursos para avaliar as opiniões dos entrevistados e como o Programa do Bolsa Família é visto na região.

Alunos participantes do projeto: Aline Lourenço – Economia / Ana Paula de Jesus- Administração / Ana Paula da Costa – Gestão Ambiental / Ana Paula Quintino – Administração / Andriele Magioli – Economia / Angelica Soares – Gestão Ambiental / Clarisse Guimarães – Gestão Ambiental / Luama Nunes – Direito / Malu Cortasio – Direito / Maria Machado – Direito / Pedro Lemos – Economia / Talita de Oliveira- Administração

“A vovó não viajou nem virou estrelinha”

Como abordar o tema morte na educação das crianças

Elza  Rodrigues

Negação, raiva, depressão e aceitação são alguns dos sentimentos experimentados pelo adulto quando afetados pela morte de alguém próximo. E as crianças? como processam esta situação? O equivalente de tais sentimentos para os pequenos, além de depressão, são a tristeza, medo, entre outros sentimentos, que geram  queda no rendimento escolar, sentimento de abandono e  culpa, agressividade, insegurança e desejo de se isolar.

Apesar do tema não ser bem esclarecido, mesmo na família que usa eufemismos como “a vovó virou uma estrelinha”, ele é amplamente divulgado pela mídia de forma crua e invasiva. Por isso a necessidade de uma educação para a morte, pois esconder a morte de alguém próximo ou fantasiar explicações para amenizar a dor da criança, mais prejudica do que ajuda no processo de luto.

Os pequenos passam por várias fases num curto período de tempo, por isso é preciso compreender bem cada uma delas. Justamente quando a criança aumenta as relações e vínculos sociais, a partir de 7 anos, é quando ela esta na escola e passa a sentir mais as perdas fora do círculo familiar. Começa a distinguir os processos da morte como reversível e irreversível, e passa a compreender melhor o tema e inclusive fala sobre o assunto. Mas é a partir dos 12 anos que todo o processo de morte pode ser entendido pela criança.

A verdade é sempre a melhor opção

Eliane Fazolo, professora de Pedagogia/UFRRJ

Eliane Fazolo, professora de Pedagogia/UFRRJ. Arquivo pessoal

A pedagoga Eliane Fazolo Freire, professora do Curso Pedagogia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, em Seropédica, lembra que não importa a idade da criança a verdade deve prevalecer: “O que costumamos indicar para professores e adultos que lidam com crianças, é que a verdade sempre seja a opção. Evitando as tradicionais desculpas como ‘vovô foi viajar para muito longe’ ou ‘foi para o céu’, ou ainda ‘virou uma estrelinha e vai ficar te olhando lá de cima’.”

A professora comenta que o tema morte é delicado para os adultos, sendo ainda mais para crianças na educação infantil. Portanto na medida do possível, é preciso que a criança entenda que não verá mais essa pessoa, que por doença, ou acidente, não voltará, mas que não virou estrelinha. “Cada família deve procurar a melhor forma de dizer isso para sua criança, respeitando as suas crenças, culturas e hábitos”, aconselha a pedagoga. Ela destaca que a escola deve ser informada sobre internações ou doenças, para que se possa ir construindo com a criança esta questão irreversível.

Livros, fotos, animais e dramatizações

“Animais como peixes, porquinhos da índia e galinhas, podem ser um aliado nessa questão. Se a escola tem a possibilidade de ter alguns deles, é excelente para tirar essa conotação dramática. Eles morrem, mas outros chegam e por mais que as crianças sintam saudades e se lembrem dos que se foram, a vida cotidiana continua” diz Fazolo Freire, defendendo este como ótimo momento para conversar sobre isso, tem choro e tem entendimento.

Outra estratégia é deixar que as crianças expressem suas perdas através de conversas, desenhos, dramatizações e esculturas. Todas as formas artísticas de expressão devem ser utilizadas quando for necessário, e quando a criança se mostrar mais quieta ou triste. Um porta-retrato no quarto da criança pode ajudar a fazer a transição do “desaparecimento”, além de manter perto o ente querido. Falar da pessoa também é aconselhável, lembrando os pratos preferidos, as frases, os passeios.

Fazolo conclui que literatura infantil que aborda o tema podem, e devem, ser lidos e trabalhados com as crianças em situações de luto ou não. A família e os educadores devem ficar atentos ao comportamento da criança, se o fato afetar o rendimento escolar, relacionamento com os amigos e a criança chorar à noite, será imprescindível os responsáveis procurar ajuda de um profissional para acompanhamento psicológico .

Alguns títulos infantis que abordam o tema:

* Menina Nina (Ziraldo)

* A pequena vendedora de fósforos – Hans Christian Andersen

* Os porquês do coração (Conceil C. Silva)

* Bisa Bia bisa Bel (Ana Maria Machado)

* Eu vi mamãe nascer (Luiz Fernando Emediato)

* Para sempre no meu coração (Anette Aubrey)

* Cadê meu avô (Lídia Carvalho)

* Por Que Elvis Não Latiu? (Frizero, Robertson)

* O Segredo é não ter medo (Tatiana Belinky)

* O Ovo e o Vovô (André Neves)

Alfabetização científica no Brasil: Uma questão a ser resolvida

Thaís Melo

O espaço e a importância dados à divulgação e alfabetização científica no Brasil vêm crescendo nos últimos anos. Ainda assim, a maior parte da população brasileira não domina informações científicas necessárias para lidar com situações cotidianas. A abordagem do tema nas escolas e no jornalismo, poucos jornalistas especializados em ciência e a forma de pensar de grande parte da população são fatores que contribuem para o analfabetismo científico.

A escola é o primeiro lugar em que o cidadão tem acesso à informação científca de forma sistemática. Entrevistei dois estudantes, um do ensino privado e outro de escola pública para saber o que pensam do ensino de ciências. “O ensino na minha escola é bem dinâmico e divertido. Eu gosto bastante das aulas”, relata Maria Luíza Moraes Campos, 14 anos, moradora do Rio de Janeiro, estudante do 8°ano do Colégio Nossa Senhora do Rosário. Em contrapartida, Anderson Braule Rosa, 16 anos, também do Rio de Janeiro, estudante do 1° ano do ensino médio do C.E. Professora Jeannette de Souza Coelho Mannarino, declarou não gostar do assunto e avaliou: “As ciências no meu colégio são ensinadas de maneira bem monótona e sem graça. É entediante.”

Ao serem perguntados de que forma eles usavam a ciência no dia a dia, ambos os estudantes afirmaram que não a usam para nada. Isso mostra que independente do gosto de cada um, não percebem as ciências no cotidiano. Essa fala comum dos dois alunos só reforça os dados obtidos pelo último levantamento Índice de Letramento Científico (ILC) do brasileiro.

Em julho de 2014, foi divulgado o Índice de Letramento Científico (ILC), fruto de uma parceria entre o Instituto Abramundo, o Instituto Paulo Montenegro e a ONG Ação Educativa. Para a pesquisa, foram aplicados questionários a 2002 pessoas entre 15 e 40 anos, com ao menos quatro anos do ensino fundamental completos. De acordo com os resultados a ciência tem influência sob a forma de ver o mundo e de lidar com situações complexas de apenas 5% dos avaliados, enquanto mais da metade sequer consegue utilizar o que aprendeu na escola em situações cotidianas.

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Pesquisas eleitorais como fator de decisão de voto

Flávio José Barbosa Júnior

Ano de 2014. Mais uma vez o cidadão tem o direito ao voto. Para que ele possa ter uma decisão consciente e escolher os candidatos por identificação, seja por propostas, seja pela personalidade, ele precisa estudar as intenções e histórico exposto no plano de governo. Neste contexto aparecem as pesquisas eleitorais. Na verdade, elas se multiplicam.

Ibope e Datafolha se destacam como os institutos de pesquisa mais conhecidos no Brasil. Mas também existem outros, até mesmo os que favorecem descaradamente um ou outro candidato. Nas eleições para presidente entre Dilma Roussef e Aécio Neves, foi possível observar tendências nos resultados das pesquisas de opinião. De acordo com o Vox Populi, a candidata Dilma Roussef estava com 48% dos votos totais enquanto Aécio Neves aparecia com 41%. Já o Sensus destacava o tucano com 52,1% e a petista com 47,9. A divulgação desses dados aconteceu no sábado, 25 de outubro, um dia antes das eleições para o segundo turno. E então, em quem acreditar? Será que há influência sobre os eleitores? Como confiar na sua veracidade?

Em entrevista ao Agenotic, o professor de ciências políticas e coordenador do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Vladimyr Lombardo Jorge analisa a relação entre as pesquisas eleitorais e a decisão de voto. Para ele, os cidadãos que podem se deixar levar pelas pesquisas são aqueles que ainda não possuem candidato. “Os eleitores indecisos são os mais influenciáveis. Os que já decidiram por um candidato dificilmente vão mudar seu voto”.

O cientista político alega que uma boa saída para decisão do voto é buscar meios alternativos de divulgação. “Se há fontes alternativas de informações, o eleitor pode comparar os dados que tem a sua disposição. Ele pode, inclusive, perceber a diferença entre a informação que os meios de comunicação (jornais e horário gratuito de propaganda eleitoral) estão fornecendo com sua experiência pessoal de vida”.

Margem de erro em 2010 e 2014
Em 2010, nas eleições para presidente, a Revista Época chamou de “Muito além da margem de erro” o resultado das pesquisas. O Datafolha e o Ibope foram responsáveis pela disparidade de margens de erro, sempre oscilando, e mesmo assim, multiplicando pesquisas eleitorais. Na ocasião, o também cientista político, Jairo Nicolau apresentou uma reflexão sobre os impasses. “Se os institutos erraram até na pesquisa que entrevistou quem acabou de votar, será que não estavam errando o tempo todo?” De acordo com Jairo Nicolau, naquela entrevista à Época, os institutos não conseguiam captar a real intenção dos eleitores o que para ele, era grave.

Quatro anos depois, parece que o problema está longe de ser resolvido, afinal  95% de confiabilidade se mostraram bem menores no ato da apuração dos votos válidos. A última pesquisa do Ibope, antes da eleição final do segundo turno, trazia Dilma Roussef com 53% e Aécio Neves com 47%. O Datafolha constatou 52% para Dilma e 48% para Aécio. Já na apuração, a petista foi reeleita com 51, 64% e Aécio ficou em 2º lugar com 48,36%, pouco mais que a margem de erro de 2 pontos percentuais tão faladas das pesquisas.

O professor Lombardo afirma que, se há erro metodológico nas pesquisas, os institutos precisam rever urgentemente sua metodologia a fim de evitar danos futuros. Até porque esses transtornos são ruins para a imagem dessas empresas. Além disso, ele não acredita que o objetivo primordial das pesquisas seja levar os eleitores a votarem naqueles que têm mais chances de vencer, ele vê as pesquisas como uma das fontes de informação, apesar de admitir que elas possuem sua própria influência.

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CTR é tema de estudos em Seropédica

Tayná Bandeira

“O Rio não vai mais permitir as violências contra o meio ambiente como foi esse crime ambiental por mais de 30 anos aqui em Gramacho”. Essas foram as palavras do prefeito Eduardo Paes em junho de 2012, data de fechamento do aterro de Gramacho, o maior da América Latina. O local agora conta com uma Usina de Biogás para fins energéticos. Com o fechamento do aterro, todo lixo foi transferido para a Central de Tratamento de Resíduos (CTR), em Seropédica, região metropolitana do Rio.

Em Gramacho, nos seus 34 anos de funcionamento, o que estava ocorrendo era um crime ambiental, contaminando diretamente a baía de Guanabara, trazendo doença, mau cheiro e transtorno para a localidade. Com a transferência, ocorrerá o tratamento de todo o lixo produzido no estado do Rio de Janeiro, incluindo a baixada fluminense. Segundo o site da empresa administradora do local e do secretário municipal de conservação e serviços públicos Carlos Roberto Osório em entrevista ao site G1, em 2012, a Central é a mais moderna, segura e a melhor da América do Sul, sendo construída a partir das Normas internacionais de respeito ao meio ambiente.

O assunto gera polêmica entre os moradores de Seropédica e ambientalistas. Segundo os órgãos responsáveis, como visto anteriormente, a central é amiga do ecossistema e trabalha com a sustentabilidade. Segundo Osório, o local foi escolhido por conta da baixa densidade populacional. O aterro está distante, mas nos arredores existem famílias que praticam a agricultura orgânica e vivem dela e, para eles, a vida mudou para pior, pois convivem com as moscas e o mau cheiro da Central. Em entrevista ao site G1, moradores relatam  sofrimento e problemas de saúde, por conta dos resíduos da Central.  Para ambientalistas e professores da área, outro problema causado pela instalação do aterro em Seropédica é uma possível contaminação do aquífero Piranema, importante recurso hídrico da região, que abastece também o Guandu, rio que proporciona água potável para a região metropolitana do Rio de Janeiro.

Imagem: Lab de Geoprocessamento da UFRJ

A pesquisa

Por ser um tema recorrente e importante, a aluna Maria Affonso Penna, estudante de Geografia na  UFRuralRJ fez uma monografia sobre a Central de Tratamento de Resíduos e apresentou parte do trabalho  na Reunião Anual de iniciação Científica (RAIC), realizada na universidade, em setembro de 2014. Moradora de Seropédica, escolheu a Central como foco de sua pesquisa porque queria colaborar com a cidade de Seropédica. “Quando comecei a escrever a monografia, tive interesse em escrever alguma coisa que tivesse inserida em Seropédica. Foi importante fazer o trabalho porque vi que o problema não era só essa CTR e sim toda a nossa relação com os nossos resíduos. Minha intenção não era apresentar a CTR como culpada ou inocente no processo e sim estudar para a partir daí traçar algumas conclusões. Foi muito difícil o levantamento de informação porque não encontramos muita coisa nos sites governamentais.”, disse.

A preocupação de Maria Penna é a mesma de moradores de Seropédica: A construção de um aterro em um ambiente voltado para a agricultura orgânica e plantações familiares. Na cidade existia uma lei ambiental que proibia a instalação de lixões, mas sofreu emendas para a construção da CTR. Para Penna, ainda existem muitas questões a serem trabalhadas para o aterro atender às expectativas da sociedade. “Existem muitas coisas para serem alteradas para a CTR atender às expectativas ambientais, pois o licenciamento ambiental foi feito de maneira incorreta. A população não ganhou com esse processo. Não existe uma troca no quesito de educação ambiental. É necessário uma fiscalização forte, melhoramento das vias públicas e uma coleta seletiva, que não existe em Seropédica”. Ela também ressalta a importância de uma gestão que dê continuidade aos trabalhos preventivos: “O problema da questão ambiental é que as políticas não acompanham. A cada gestão que entra se ignora a gestão passada. Para ter um planejamento ambiental eficiente, a palavra é continuidade. Pode monitorar, mas não encerrar. A questão ambiental é de longo prazo, as respostas são demoradas. É difícil encontrar um local para um aterro. Torço para que esse aterro seja um bom exemplo pra gente”.

O professor Leandro Dias Oliveira, orientador de Maria Penna e pesquisador na área da sustentabilidade na UFRuraRJ, acredita que a preocupação com a concentração dos resíduos em Seropédica poderia ser evitada com uma política governamental mais organizada. “O lixo na verdade é um problema congênito do sistema. A questão do lixo é um problema de Estado, o Estado tem que ter maior participação. Na verdade, cada município deveria cuidar de seus resíduos. Em relação à CTR, se pensou em um esconderijo espacial para empurrar o lixo. Deveria haver um controle social maior, mas estamos falando de algo que é quase utópico, um diálogo muito profundo que o Brasil ainda não aprendeu a fazer com a sociedade civil”, disse o professor. “Quanto a CTR temos duas questões: A melhoria foi um pouco mais de planejamento na borda da metrópole. O local onde o aterro sanitário está instalado foi escolhido por ser mais afastado e foi escolhido ali estrategicamente porque a região tem uma conexão de transporte, ou seja, uma facilitação de despejo. Por outro lado, no meu olhar o que mais causa constrangimento é que não houve nenhum tipo de diálogo entre as autoridades e os moradores de Seropédica. Então tudo que é instalado como um rolo compressor, de cima pra baixo gera esse tipo de conflito”, afirmou o professor.

Para saber mais sobre o solo do aterro, conversamos com o professor e engenheiro agrônomo da UFRRJ Everaldo Zonta. Ele afirma que se não houver uma execução correta do projeto, ocorrerá contaminação do lençol freático e do aquífero Piranema. “Há a necessidade de uma fiscalização intensa por parte dos órgãos ambientais. Com a vinda do aterro, houve intensa desvantagem ambiental e social”, disse Zonta. Quando perguntado sobre o solo de um aterro, o professor deu um alerta: “Nesses locais podem ser replantados alguns vegetais que não entrem na cadeia alimentar do homem. A recuperação do solo pode ser rápida, dependendo das espécies que você planta”. De acordo com os entrevistados, deve haver uma maior fiscalização no local, para que tudo ocorra de acordo com as leis ambientais e para não ter prejuízo de ambas às partes. O diálogo com os moradores também é necessário, questão de cidadania. Se cada município cuidasse de seu lixo, o caminho para uma consciência ambiental ficaria mais fácil. Muitos caminhos ainda estão em aberto, possibilidades existem e podem ser um tema abordado pelas autoridades.

Ensinar e aprender matemática: desafios na escola

Gian Cornachini

Em março de 2013, a ONG “Todos pela educação” divulgou um estudo que compara a evolução de alunos na escola. A pesquisa aponta a matemática como a disciplina que tem o pior rendimento na escola pública.

O radiodocumentário “Desafios da Matemática” tem o objetivo de entender o porquê desse resultado e o terror que há sobre a matemática, além de apresentar o papel do professor na formação dos estudantes. Para ouvir, clique no player abaixo.

Locução, produção e edição: Gian Cornachini

Entrevistados

Cristiane de Freitas Meireles — professora de história, geografia e matemática na Escola Municipal Nelson Fernandes Nunes, em Seropédica (RJ);
• Elen da Silva Rodrigues — mãe da estudante Julia, do 4º ano da E. M. Nelson Fernandes Nunes;
Gisela Pinto — professora coordenadora do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) de Matemáica, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ);
Leonardo Cruz — graduado em Design Digital;
Pedro Carlos Pereira — professor coordenador do Programa de Educação Tutorial (PET) de Matemática, da UFRRJ;
Maurício de Carvalho — estudante de Matemática (bacharelado) na UFRRJ;
Gabriel da Silva Freitas — estudante de Matemática (licenciatura) na UFRRJ;
Bruno Freitas de Queiroz — estudante de Matemática (licenciatura) na UFRRJ

Este trabalho foi produzido para a disciplina de Radiojornalismo II, do curso de Jornalismo da UFRRJ (maio/2013)

Meio ambiente, saúde e infraestrutura de Seropédica sofrem com falta de ações

Reportagem em aúdio* aborda pontos críticos da urbanização do municipío

Texto: Analine Molinário, Laila Carvalho e Ramon César

R. Tharsis e Paula. Bairro Fazenda Caxias. Foto: Ramon César

R. Tharsis e Paula, bairro Fazenda Caxias.  Foto: Ramon César

A reportagem em áudio aborda problemas de infraestrutura enfrentados pela cidade da Baixada Fluminense no Rio de Janeiro, Seropédica. De acordo com dados do censo 2010 do IBGE, 60% das ruas não possuem saneamento, 70% não têm calçadas e em 78% não há bueiros. Em época de chuvas, o esgoto chega a invadir casas, e as ruas ficam com difícil acesso. Há incidência de doenças relacionadas à falta de saneamento básico.

Além de moradores, a equipe ouviu o secretário de obras da cidade, Fernando Barros, e os professores Francisco de Francisco e Henrique Esher, do Departamento de Geociências da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, que também destacam os problemas de infraestrutura no campus da Universidade,  em Seropédica.

Para ouvir a matéria, clique no player abaixo.

* A reportagem foi apresentada pelos alunos à disciplina de radiojornalismo do curso de Jornalismo da UFRRJ (dezembro/2012)

Aterro de Seropédica: solução que virou problema

Bernardo Augusto

Quase dois anos após a inauguração do aterro sanitário de Seropédica, prejuízos provocados pelo empreendimento podem ser percebidos, tanto por moradores quanto pelos órgãos responsáveis pela fiscalização. Esses problemas geraram várias multas para a Ciclus, empresa que administra o centro de tratamento de resíduos. O motivo das penalidades é o não cumprimento de alguns requisitos obrigatórios para o bom funcionamento do aterro, como a construção de um lugar para tratar do chorume e a construção de um cinturão verde.

Algumas irregularidades são apontadas pela professora Tatiana Cotta, do Departamento de Ciências Jurídicas da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Ela conta que além do local escolhido, em Santa Rosa, Chaperó, estar sob proteção ambiental e ser um solo arenoso, relatórios contrários apresentados, inclusive pela Ciclus, foram suprimidos pelas autoridades municipais para que o aterro fosse instalado. Outras tecnologias mais avançadas não chegaram a ser discutidas, como a transformação do lixo em combustível para ônibus.

Hoje, segundo a professora, a empresa que administra o aterro leva o chorume para Niterói. Essa substância quando não tratada traz grande mau cheiro. Tatiatana Cotta diz que como não é possível tratar a quantidade total deste resíduo nesse município, há relatos de que o resto vem sendo despejado em plena Baia de Guanabara

Outros problemas foram aparecendo com o tempo, principalmente para população que vive perto do aterro. Animais peçonhentos são atraídos pelo lixo e o mau cheiro. Problemas respiratórios tornaram-se mais frequentes na população devido ao aumento do movimento dos caminhões  que transportam cerca de 30 mil toneladas semanais – só da cidade do Rio de Janeiro – por uma estrada sem pavimentação, até o aterro.

A presença de moscas varejeiras também é comum, levando a empresa a distribuir à população remédios contras os insetos. Relatos feitos por moradores à professora dizem que toda noite um funcionário do aterro solta fogos de artifício para espantar os urubus do local.

Ainda segundo moradores, a água que a população costuma pegar em um poço da região sofreu alteração no sabor desde o começo do funcionamento do aterro, levantando a hipótese de uma possível contaminação do lençol freático. A desvalorização dos imóveis é outro problema, já que as pessoas não conseguem vendê-los devido à localização e ao frequente mau cheiro do local.

O aterro não afeta somente os que vivem às proximidades do terreno. De acordo com Tatiana, uma empresa à cerca de 10Km tem que usar artifícios contra as moscas varejeiras, principalmente no refeitório. Alunos que vêm de Itaguaí para a UFRRJ já sentem o mau cheiro do aterro na estrada que liga os dois municípios. A localização da fazenda é quase na divisa entre Seropédica e Itaguaí.

Alguns pontos positivos são destacados pela professora como benefícios tributários e o ICMS ecológico. A economia é outro ponto positivo, principalmente para os empreendimentos da região, devido ao aumento da circulação de trabalhadores do aterro sanitário, que necessitam de hotéis e alimentação.

Publicidade de brinquedos reforça estereótipos da mulher

Propaganda para o público infantil é mais adulta do que parece

Andreza Santos

Refletir sobre a publicidade de produtos para crianças vai além de pensar sobre consumo do produto. Os anúncios de brinquedos, roupas e outros artigos divulgam padrões de comportamento e estilos de vida. E é isso que explica a professora do Departamento de Economia Doméstica e Hotelaria da UFRRJ, Patrícia Oliveira de Freitas, em seu artigo “Do cuidado com os outros ao cuidar de si: reflexões sobre a publicidade de bonecas”, publicado em setembro de 2012.

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foto: divulgação

Em uma análise de peças publicitárias infantis para o dia das crianças, a pesquisadora constata como a publicidade absorve a cultura e opera a partir dela e como, de modo específico, a propaganda de brinquedos para meninas contribui para a naturalização das definições de gênero, fazendo com que haja um “adestramento” a um determinado tipo de comportamento. “Esse tipo de afirmação não leva em consideração que o comportamento humano é determinado culturalmente, ficando implícito que a questão biológica seria a responsável por essa situação. Na verdade, as relações de gênero se dão entre pessoas”, destaca Patrícia de Freitas.

Assim, comerciais típicos de boneca seriam, na verdade, difusores de modelos que representam mulheres em supostos “papeis naturais”, como mães ou donas de casa. “Encontramos panelinhas, aparelhos de chá ou jantar, vassourinhas, ferros de passar, e até brinquedos mais sofisticados como máquinas de fazer sorvete e liquidificadores que funcionam de verdade e que só podem ser comprados na cor rosa”, enfatiza a professora.

Para entender melhor o funcionamento do discurso publicitário, a pesquisadora analisou o emprego de recursos dos comerciais. Segundo ela, o uso comum de palavras diminutivas, a constante representação das meninas como mães preocupadas com o banho, a alimentação, o sono e a saúde de seus filhos, por exemplo, são fatores que contribuem para reforçar o treinamento de meninas para esse tipo de atividades.

Uma tendência que vem sendo constatada pelas análises da publicidade desde os anos 2000 é o aumento da frequência de anúncios que apontam para o universo da beleza feminina. Com isso, o discurso da mulher sedutora, poderosa e independente difundido para o público adulto, vem também sendo apresentado no universo infantil.

Outro aspecto destacado na pesquisa é o uso de bonecas que têm o nome e um pouco da aparência de apresentadoras infantis ou artistas de TV. “Todas elas nos remetem a um determinado padrão de beleza, que se pretende hegemônico, associado à juventude, ao corpo esguio e à branquidade”. Segundo afirma a pesquisadora, a mídia se apropria de imagens de um mundo repleto de beleza e harmonia para trabalhar com padrões idealizados e inalcançáveis.

Para saber mais: Do cuidado com os outros ao cuidar de si: reflexões sobre a publicidade de bonecas, Patrícia Oliveira de Freitas, 2012.